Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
Tiago, Filipe e Mateus são irmãos. Respectivamente, vinte e sete, trinta e trinta e dois anos de idade. A julgar pelos nomes de apóstolos, provavelmente seus pais são pessoas religiosas. Os três irmãos estão ocupando a mesa doze de um bar e, através da vidraça, conseguem ver a chuva caindo na rua.
“Alguém sabe o que é toró?”, pergunta o Tiago.
“Em que contexto?”, diz o Mateus.
“Que história é essa de contexto?!”, pontua o Filipe, “qualquer criança sabe que toró é uma chuva muito forte e de curta duração.”
“Objeção”, diz o Mateus, “toró também pode ser uma chuva miúda e constante, uma garoa, por exemplo.”
“Você está é tentando se esquivar, não quer assumir que não sabia o que é toró”, diz o Filipe, olhando para o Mateus.
“Os dois estão certos”, diz o Tiago, “e toró também é uma espécie de pequena trombeta indígena.”
“Essa definição da trombeta eu não sabia”, assume o Mateus, “mas sei que toró é quem não tem um dedo da mão.”
“É verdade, lembrei”, diz o Filipe, “e toró também é aquele que não tem a falange de um dos dedos.”
“E o que é falange?”, pergunta o Tiago.
“Essa é fácil”, diz o Mateus, “falange é o pequeno osso que forma o esqueleto de dedos e artelhos.”
“Espere um pouco, o que é artelho?”, pergunta o Filipe.
“Entre outras definições, artelho é junta de ossos, articulação”, responde o Mateus, “mas... não vamos perder o foco, voltemos à falange.”
“Sabiam que falange também pode ser unidade militar grega?”, pergunta o Filipe.
“Essa definição eu desconhecia”, diz o Tiago, “para mim, falange é simplesmente um grupo numeroso de pessoas.”
“Ah, lembrei outra definição”, diz o Mateus, “na umbanda, falange é o conjunto de entidades espirituais pertencentes a uma mesma linha ou subdivisão de cada linha.”
“E o que é falange distal?”, pergunta o Tiago.
“É a terceira falange”, responde o Filipe, “onde se situa a unha.”
“Essa aí não é a falangeta?”, indaga o Tiago.
“Sim, ocorre que a denominação falangeta foi substituída por falange distal... Mas, o que isso tem a ver com toró?”
“Nada a ver”, diz o Tiago, “mas a conversação é dinâmica, flui naturalmente, e falando nisso, alguém sabe o que é mito?”
“Também é fácil”, diz o Mateus, “mito é a narrativa de origem remota com significado simbólico, que faz uma abordagem às forças da natureza e a aspectos gerais da condição humana, cujas personagens são seres sobrenaturais.”
“Será por isso que alguns chamam o presidente de mito?”, pergunta o Tiago.
“Não creio”, diz o Filipe, “tratando-se do Bolsonaro, a definição de mito deve ser: construção da mente que não se baseia na realidade, uma fantasia apenas, ou então, uma forma apocopada de mitômano.”
“Bolsonaristas não devem saber o que é mitômano, e muito menos apocopado.”
“Certamente eles não sabem, não sabem nem mesmo o que é democracia”, diz o Mateus, “mas essas definições ficam pra outro dia, os chopes estão chegando...”