Para discorrer sobre o assunto e destacar a importância dele, nada melhor que um especialista: o professor mestre Tiago Moreno, gestor da Faculdade Futura de Votuporanga
Professor mestre Tiago Moreno (Foto: A Cidade)
Daniel Marques
daniel@acidadevotuporanga.com.br
O dia 10 deste mês é oficialmente o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, e este mês é conhecido como Setembro Amarelo, atualmente a maior campanha anti-estigma do mundo. Para discorrer sobre o assunto e destacar a importância dele, nada melhor que um especialista: o professor mestre Tiago Moreno Roberto Lopes, gestor da Faculdade Futura de Votuporanga.
Tiago é Mestre em Psicologia da Saúde e doutorando em Ciências da Saúde. Há muito tempo ele pesquisa sobre o comportamento suicida e também em relação às possíveis intervenções que possam diminuir as tentativas de suicídio. “Eu pesquiso o comportamento suicida desde o meu projeto de mestrado e também tive o projeto aprovado para doutorado com a mesma temática. Pesquiso também as propostas que o SUS tem desenvolvido sobre a questão do suicídio no Brasil”, explicou.
Recentemente, o professor teve um artigo publicado em inglês sobre o tema. Ele tem ainda um capítulo de um livro para ser publicado sobre suicídio na comunidade LGBTQIA+.
Quem iniciou o processo de notoriedade do Setembro Amarelo foi Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que em 2013 colocou no calendário nacional a campanha internacional. E desde 2014 a ABP e o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgam e conquistam parceiros no Brasil inteiro para a campanha.
Existe o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, dia 10 deste mês, mas a prevenção acontece durante todo o ano. Já, o lema do Setembro Amarelo deste ano é “Se precisar, peça ajuda!” e diversas ações estão sendo desenvolvidas.
Para Tiago, todos devem atuar ativamente na conscientização da importância que a vida tem e ajudar na prevenção do suicídio, tema que ainda é visto como tabu. “É importante falar sobre o assunto para que as pessoas que estejam passando por momentos difíceis e de crise busquem ajuda e entendam que a vida sempre vai ser a melhor escolha”, apontou.
O professor explicou que quando uma pessoa decide terminar com a sua vida, os seus pensamentos, sentimentos e ações apresentam-se muito restritivos, ou seja, ela pensa constantemente sobre o suicídio e é incapaz de perceber outras maneiras de enfrentar ou de sair do problema. “Essas pessoas pensam rigidamente pela distorção que o sofrimento emocional impõe”, esclareceu.
Tiago enxerga o suicídio como um problema de saúde pública de nível internacional. O suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo, de acordo com as últimas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicadas no Relatório “Suicide Worldwide in 2019”. Todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que por HIV, malária ou câncer de mama – ou guerras e homicídios.
O gestor da Futura afirma que o suicídio é um fenômeno que pode envolver diversos fatores: biológico, social e psíquico, e exige dos profissionais da saúde um olhar amplo para a subjetividade da pessoa que está em algum estágio de adoecimento ou sofrimento.
Para discutir o tema, a OMS e todas instituições da saúde têm se reunido para identificar e intensificar estratégias e ações que possam resultar na prevenção do comportamento suicida. O professor ressalta que as ações preventivas não podem se limitar apenas aos espaços ditos da “Saúde”. “O diálogo sobre prevenção deve estar principalmente onde os maiores índices se encontram, como ambientes de interações, espaços religiosos, escolas e intuições de ensino superior, em ambientes acolhedores que possibilitam a abertura para falar mais sobre nossas emoções e dificuldades”, disse.
Onde procurar ajuda?
Quem precisa de ajuda e não sabe por onde começar, pode ir direto até uma Unidade Básica de Saúde (UBS), onde são realizados acolhimento e uma avaliação inicial, para direcionar o tratamento e, dependendo das necessidades de atendimento, o encaminhamento para os demais pontos de atenção da Rede de Atenção Psicossocial (Raps).
Os serviços da Atenção Primária à Saúde (APS), a porta de entrada do SUS, têm papel fundamental na identificação precoce das pessoas em sofrimento psíquico e/ou com transtornos mentais ou com problemas em decorrência do uso de drogas e, ainda, aquelas com risco ao suicídio. É importante deixar claro que todos os dados, informações sobre o paciente são mantidos em sigilo e que não há nenhum tipo de julgamento quanto à situação de cada um durante o acolhimento.
O luto por suicídio
O luto por suicídio é diferente de outras formas de luto. Além disso, o luto pode levar um tempo variado e ser muito diferente para cada pessoa.
É importante lembrar que você não é culpado pelo fato de uma pessoa próxima ter se matado. Essa não foi uma escolha sua. Você é humano e não tem o poder de controlar tudo na vida de outra pessoa. O suicídio é um evento muito multifatorial e não pode ser explicado por um único fator.
O autocuidado deve ser priorizado em um momento de luto, a não culpabilização pelo ente querido que se foi pode ser uma estratégia inicial, o suporte psicológico pode ser intensificado. Deve-se ficar atento aos sintomas persistentes para possível intervenção. Procure não ficar sozinho, mantenha contato com pessoas que você gosta e que se sinta à vontade para se expressar.
A pessoa em luto por suicídio precisa de uma escuta sem julgamento, críticas ou preconceitos. Pergunte ao sobrevivente se, e como você pode ajudar. Seja paciente e deixe a pessoa livre para falar sobre o que precisar, no ritmo dela. O suporte nesse momento deve se intensificar por partes dos familiares e amigos.
Ao realizar a escuta da pessoa que está em sofrimento, deve-se evitar questionamentos, como o motivo dela estar assim. Compreenda que aquele momento é muito íntimo e doloroso e que cada indivíduo tem seu tempo.
Fatores para ficar atento
Fatores que podem aumentar o risco de autoagressão ou tentativa de suicídio em crianças e adolescentes são: história de tentativas de suicídio ou autoagressão (por exemplo, automutilação); histórico de transtorno mental; bullying; situação atual ou anterior de violência intra ou extrafamiliar; história de abuso sexual; suicídio(s) na família; baixa autoestima; uso de álcool e outras drogas; populações que estão mais vulneráveis a pressões sociais e discriminação, tais como LGBTQIA+, indígenas, negros, pessoas em situação de rua, entre outras.
Roda de conversa
Para tratar do assunto, a Faculdade Futura realizará uma roda de conversa online, por meio do Google Meet, no dia 23 de setembro (sábado), às 14h. Vários profissionais da área da saúde mental confirmaram presença, entre eles o médico psiquiatra Ali Husni Najm, que é graduado em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro, fez residência Médica em Psiquiatria Geral (HB / Famerp) e é pós-graduado em Psiquiatria da Infância e Adolescência pelo CBI of Miami, nos Estados Unidos. “Será um bate-papo, uma conversa informal, oportunidade também para tirar dúvidas dos alunos. Será uma tarde bem interativa para podermos esclarecer muitos pontos importantes sobre essa temática”, contou Tiago.