O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca nesta
terça-feira em Brasília para conversar com a presidente Dilma Rousseff sobre
sua ida a um superministério político focado em dois pontos: recuperação da
economia e articulação política para barrar o avanço do impeachment depois das
manifestações do último domingo. Segundo auxiliares de Dilma, o petista
apresentará condições para fazer parte da equipe, entre as quais, uma guinada
na condução da área econômica para agradar a base sindical e de movimentos
sociais, o que contraria a política de ajuste fiscal de Dilma. O grande desafio
de Lula vir a assumir um ministério é convencer a opinião pública de que não
está tentando fugir do juiz Sérgio Moro, na Operação Lava-Jato, para que seu
processo seja julgado no Supremo Tribunal Federal (STF).
Além de uma pasta política, Lula avalia também a
possibilidade de assumir o Ministério das Relações Exteriores. Uma pessoa
próxima ao ex-presidente disse ser uma pasta que promoveria uma melhora na
economia de forma mais rápida, atraindo grandes investidores externos. Isso não
excluiria suas ações na área de articulação política, nem a possível
intervenção na condução econômica do governo. O interlocutor do ex-presidente
considerou também que, dentro do Palácio do Planalto, Lula poderia não se
sentir confortável. A oposição já afirma que Dilma ficaria como figura
decorativa, uma “rainha da Inglaterra”, e Lula tomaria as rédeas do governo.
Interlocutores do ex-presidente disseram que ele se
convenceu de assumir um ministério após as manifestações de domingo e da
decisão da juíza Maria Priscilla Ernandes, da Justiça de São Paulo, de
transferir para Moro a investigação do caso do tríplex, que envolve denúncia e
pedido de prisão preventiva.
DEM PREPARA AÇÃO POPULAR
Os líderes do DEM na Câmara e no Senado, Pauderney Avelino
(AM) e Ronaldo Caiado (GO), já estão com uma ação popular pronta pedindo a
suspensão de uma eventual nomeação do ex-presidente como ministro.
— É um escárnio, um tapa na cara do povo. O Lula deve
aceitar para fugir do juiz Sérgio Moro e blindar a sua família. Ao fazer isso,
o PT se antecipa ao impeachment, porque a presidente Dilma viraria rainha da
Inglaterra. Mas isso vai colocar combustível na situação do Palácio do Planalto
— disse Avelino.
— Nomear Lula seria uma ação ilícita, espúria, da presidente
que dizia que jamais interferiu e nem interferiria na Polícia Federal e no
Ministério Público. Se isso se confirmar, vamos entrar com uma ação popular em
todos os estados para exigirmos a nulidade deste fato. Diz-se que rico, quando
rouba, vai para o ministério. Ele (Lula) seria réu confesso — afirmou Caiado.
Numa tentativa de descolar a ida de Lula para o governo de uma suposta fuga das
investigações, Wagner enfatizou que o STF é a instância máxima do Judiciário e
também tem por atribuição investigar e julgar.
— O STF não é Justiça também não? O mensalão não foi julgado
lá?
Wagner, que participou da reunião de coordenação política
com Dilma e outros sete ministros ontem pela manhã, disse que Lula está sendo
perseguido.
— Tem gente babando sangue. Lula virou troféu e por isso o
concurso entre o MP de Curitiba e São Paulo.
Ontem, emissários do ex-presidente estiveram no Planalto
para pavimentar a conversa com a presidente. Enquanto o ex-chefe de gabinete de
Lula Gilberto Carvalho se reunia com Jaques Wagner (Casa Civil), o presidente
do PT, Rui Falcão, esteve com Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo). Segundo
um auxiliar presidencial, a ideia é que Lula assuma um ministério que faça
essencialmente articulação política, caso da Secretaria de Governo, ocupada por
Berzoini.
— A Casa Civil é hierarquicamente de maior subordinação e
tem uma pauta administrativa muito grande. Não é para isso que Lula está vindo.
Ele vem para fazer política — diz um auxiliar da presidente.
A pressão para que o ex-presidente assuma o posto aumentou
depois das manifestações de domingo, que deixaram o governo nas cordas, na
avaliação de petistas. A bancada do PT pretende fazer um apelo para que Lula
aceite o convite.
— Acho que é natural (o apelo). A gente sente isso não só na
bancada, mas na base aliada também — disse Vicente Cândido (PT-SP), que esteve
ontem com Lula para convidá-lo a uma reunião com os parlamentares do partido,
amanhã, em Brasília.
O presidente do PT, que também esteve reunido com Lula
ontem, deixou claro que é um entusiasta da ideia de ver o ex-presidente no
Ministério.
— A minha opinião é que ele deveria ir (para o governo),
independentemente dos protestos. Mas é uma decisão difícil, que tem que ser
muito pensada — afirmou Falcão.
Descontente com os rumos da economia e apesar da pressão do
PT pela saída de Nelson Barbosa (Fazenda), Lula não quer, neste momento, que
ele seja substituído. Na semana passada, o ministro esteve no Instituto Lula, conversando
com o ex-presidente, que ainda o avaliza na pasta. A queda de braço entre o
ministro da Fazenda e o PT está cada vez mais forte, com o recrudescimento da
crise política.
Fonte: Agência O Globo