Geral
Circuito Sesc de Artes chega à região
Uma programação gratuita com espetáculos, intervenções, mediações de leitura e oficinas, às praças, ruas e parques de 123 cidades do estado de São Paulo
publicado em 24/10/2023
Mais de 700 atividades divididas em 12 roteiros diferentes percorrerão municípios da Grande São Paulo, interior e litoral paulista (Foto: Divulgação)
Com uma extensa programação nas áreas de música, dança, circo, teatro, cinema, literatura, artes visuais e tecnologias, o Circuito Sesc de Artes chega a 2023 levando uma programação gratuita com espetáculos, intervenções, mediações de leitura e oficinas, às praças, ruas e parques de 123 cidades do estado de São Paulo. Realizado pelo Sesc São Paulo em parceria com prefeituras municipais e sindicatos do comércio, serviços e turismo locais, o evento reúne 75 trabalhos artísticos distribuídos em seis finais de semana entre os dias 21 de outubro e 26 de novembro.
Fruto de uma curadoria coletiva, feita com as unidades do Sesc no estado, a escolha das atrações mostrou um olhar atento para a diversidade e a representatividade. De um grupo de samba formado só por mulheres pretas e idosas a uma vivência que ensina os significados dos grafismos indígenas utilizados pelos povos Tukano, Kambeba, Sataré Mawé e Wauja, o Circuito Sesc de Artes conta com a participação de mais de 400 artistas.
Entre eles figuram os dançarinos do Ballet Stagium e os atores da companhia de teatro Pia Fraus, de São Paulo, além da dupla de DJs Jônatas Micheletti e Nat Rozendo, de Araraquara, e da Cia Beira Serra, de Botucatu, que promove o encontro das técnicas circenses com a cultura popular caipira. Os artistas representam algumas das regiões do estado que acolhem as apresentações, cada uma com um roteiro de espetáculos.
Realizado desde 2008, o Circuito Sesc de Artes ao concentrar todas as atividades em espaços públicos, como praças e parques, que são pontos de referência em cada município, convida a população a desfrutar de uma programação diferente e vivenciar experiências únicas.
“É na confluência de ruas e sentidos, largos e praças, unindo expressões artísticas e públicos diversos, que ocorre o Circuito Sesc de Artes. Com tais iniciativas, que oferecem tanto experimentações socioculturais quanto vivências coletivas, o Sesc reitera sua atuação na difusão de conhecimentos, contribuindo assim para a ampliação de repertórios de seus públicos. E ao estimular a convivência com a diversidade de pessoas e ambientes, entendendo-a como elemento central de sociabilização, a instituição espera ainda reforçar as conexões democráticas que sustentam o tecido social”, comenta Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.
Música
Uma série de atrações irá percorrer grande parte do estado de São Paulo com artistas de vários estados brasileiros. Um dos nomes que se destacam em música é o grupo Pastoras do Rosário formado por oito mulheres pretas e idosas, que surgiu em torno da comunidade da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, território ancestral tombado pelo governo e pelo município de São Paulo. Inspiradas pelo baobá, árvore de sustentação e resistência, elas usam as vozes maduras e melodiosas para mostrar um repertório com sambas das décadas de 1990 e 2000.
Referência histórica na luta contra a escravização, a guerreira Dandara serve como inspiração para o grupo paulistano Samba de Dandara, dedicado a enaltecer e promover a resistência feminina e negra das mulheres sambistas, entre compositoras e intérpretes. Para dar voz a canções imortalizadas na história do samba e do país, com indiscutíveis raízes afro-brasileiras e indígenas, a banda recebe as artistas Raquel Tobias e Ayô Tupinambá.
Depois de 18 anos à frente da banda de forró Bicho de Pé, a cantora Janayna Pereira estreia seu trabalho solo, o álbum Tempo Bom. Transitando por vários estilos, a artista convida o público a dançar ao som de canções de sua própria autoria e releituras para músicas de outros artistas. Já os músicos Ricardo Vignini e Zé Helder transformam canções clássicas do rock em versões instrumentais para viola caipira no projeto musical Moda de Rock.
Versões de sucessos como Agradece, Ela encanta e Mama respect estão no repertório do álbum Rewind, que comemora os dez anos de carreira da cantora e compositora Marina Peralta. Na releitura de suas músicas voltadas para bailes e pistas de dança, a artista do Mato Grosso do Sul une timbres digitais e graves marcantes aos tambores nyabinghi característicos do reggae, estilo que a tornou conhecida.
A discotecagem também marca presença na edição 2023 do Circuito Sesc de Artes com apresentações da DJ Bia Sankofa, que pesquisa ritmos de origem africana como amapiano, kizomba, zouk e afrobeats, além de suas vertentes diaspóricas e da DJ Flávia Santos, do Discotecagem Mulheres do Brasil, que promete um repertório eclético, da velha guarda de Nilze Carvalho (1980) à contemporaneidade de MC Tha (2019). Baiano de Salvador, o DJ, crítico musical e pesquisador Ivisson Cardoso adota o apelido de Meu Caro Vinho para discotecar. Sua seleção inclui clássicos da música preta mundial dos anos 1980 e 1990, boogies menos conhecidos da década de 1970 e canções dançantes que são marca registrada de seu estado.
Teatro
Para todas as idades, a seleção de espetáculos teatrais conta com o grupo Pia Fraus com a montagem Gigantes Modernistas, na qual grandes bonecos, estruturas infláveis e passos de dança, trazem à cena importantes obras e artistas do movimento modernista brasileiro, como os pintores Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Anita Malfatti e os músicos Pixinguinha e Chiquinha Gonzaga.
A intervenção O rastro do meu passo, do Grupo Fora do sériO, provoca de maneira poética e lúdica discussões sobre sustentabilidade e reforça a importância de reduzir a caminhada da poluição. Com cenas curtas, palco, adereços e bonecos em miniatura, o Teatro Lambe-Lambe, do Teatro de Caixeiros, se desenvolve dentro de uma caixa fechada.
Na Festa das Flores, da Cosmic Dance Brasil, dança e teatro contam a história do povo das flores e o público é convidado a brincar com os “pólens coloridos” em um rito coletivo inspirado no “holi”, o festival das cores que marca a chegada da primavera na Índia. Com música, máscaras e bonecos, a Cia. Mevitevendo, apresenta a intervenção Circo Secreto, uma homenagem ao universo circense. A sereia voadora, os irmãos desequilibristas, o homem que perdeu a cabeça e a bailarina mais antiga do mundo são personagens misteriosos de um lugar mágico e encantador que surge no espaço da encenação e retrata situações inesperadas e divertidas.
Inspirados nas tradições brasileiras, as peças Coisas de Saci, da Cia Tempo de Brincar e O Auto do Negrinho, do Terreiro Encantado utilizam cantigas de roda em ritmos brasileiros como coco, ciranda, toada, jongo e catira e na oralidade da literatura de cordel e nos tambores das congadas para valorizar a cultura popular do Brasil.
Dança
O grupo vão apresenta No hay banda é tudo playback com coreografias embaladas por versões remixadas de canções dos anos 1990, todas interpretadas por mulheres. Já o coletivo Flor de Aroeira mostra o espetáculo Tambor de Crioula inspirado em uma manifestação popular da cultura maranhense que louva a fertilidade.
Com a coreografia Cordas do Coração, o premiado Ballet Stagium exibe um espetáculo que investiga e homenageia as raízes brasileiras sem se ater a rótulos ou modismos. A partir da metáfora do coração como um instrumento de cordas, a trilha sonora combina temas de Johann Sebastian Bach e música caipira, com canções como Tristeza do Jeca, de Angelino de Oliveira, e Viola Quebrada, de Mário de Andrade.
Formada por professores que atuam em diferentes escolas e estúdios de São Paulo, a companhia That Swing Dance Company pesquisa e divulga estilos de dança como lindy hop, charleston, rockabilly e boogie woogie, surgidos nos Estados Unidos na primeira metade do século XX no espetáculo Lindy hop: um jazz para dançar.
As crianças também poderão se divertir com a intervenção Cabeção Pelo Mundo, o Show, da dançarina e manipuladora Maria Eugênia Tita, que dá vida a um simpático e encantador Cabeção e apresenta danças como o frevo, o cavalo marinho, o caboclinho e a capoeira
Circo
Do Mato Grosso do Sul e de São Paulo, a intervenção Brincadeiras de Mateus, dos artistas Cibele Mateus e Fagner Saraiva traz ao público a figura da cultura afrodiaspórica Mateus, que aparece em diversas brincadeiras brasileiras, como bois, mamulengos e reisados levando canções, versos e receitas da sabedoria popular em seus embornais.
Circo da Cuesta, da Cia Beira Serra, promove o encontro das técnicas circenses com a cultura popular caipira. Na montagem, os artistas não chegam para apresentar o circo na quermesse do vilarejo de Nossa Senhora das Dores de Cima da Serra e os organizadores do evento precisam improvisar com números de malabarismo, acrobacias e ilusionismo.
Equilibrismo, acrobacias, contorcionismo, manobras com um monociclo, música e muitas risadas com palhaços, o Exército Contra Nada apresenta um enredo de linguagem universal no espetáculo Caravana Zona Leste. Comandados por um mestre de cerimônia, os nove artistas em cena divertem e surpreendem enquanto prestam uma homenagem à arte mambembe.
Já Móbile, que comemora os 20 anos da Cia Circo Delírio, mescla as linguagens do circo contemporâneo, a comicidade e o teatro físico. Inspiradas pelo tema da mobilidade humana, as situações têm o cinema mudo como referência. Em Maiador, da carioca Cia Delá Praká, baião e samba de roda embalam as acrobacias, números de equilíbrio e movimentos de capoeira que compõem o espetáculo, inspirado na cultura regional brasileira. Feitas em dupla, as sequências exibem sincronia e evocam a atmosfera de acolhimento característica do maiador, um lugar de amparo para o gado na roça nordestina.
Literatura
Os povos originários marcam presença na programação com as atividades de mediação de leitura Semeando histórias indígenas – Povo Guarani, de Anélita Núñez, Jeff Nefferkturu e Gabriela Núñez e Brincando com os Kariris-Xocós, do Grupo Kariri-Xocó. A primeira inclui duas narrativas do povo guarani, além de histórias sobre o surgimento de algumas brincadeiras, como o jogo de peteca e a queimada da onça e da galinha e a segunda convida os leitores a embarcar em um mundo desconhecido e interessante que mostra o dia a dia dos kariri-xocó, povo historicamente originário de Alagoas.
As artistas e contadoras de histórias Denise Aires, Ana Moraes e Karen Santos, da Cia Oya ô promovem uma mediação de leitura que busca aproximar crianças, jovens, adultos e idosos da diversidade presente nas culturas africana, afro-brasileira e diaspórica com a ação Leituras de lá e de cá. A Cia Bambuzal de Histórias, coletivo formado por artistas educadores de São Paulo e Salvador, realiza a mediação de leitura Jardim das palavras. Bonecos articulados e bichinhos feitos de tecido ajudam a contar histórias como A árvore generosa (Shel Silverstein), O pássaro encantado (Eliane Potiguara), Lin e o outro lado do bambuzal (Lúcia Hiratsuka) e Onda (Suzy Lee).
Artes visuais e Tecnologias
Quem é capaz de imaginar que garrafas PET podem dar origem a instrumentos musicais? O artista, educador e musicoterapeuta André Pereira Lindenberg, conhecido como Dedéco, colocou a ideia em prática e mostra como produzir sinopets, sinos feitos com o material na oficina Sonorilândia em Sinopets. Ao final, convida o público a se aventurar como regente da sinfonia sonora produzida em conjunto.
Na vivência Criação de brinquedos de madeira, do Caçambaria, os participantes utilizam toquinhos de madeira, tintas e pincéis para criar brinquedos como pequenos animais, robôs e bonecos. Lúdica e inspiradora, a oficina também procura conscientizar sobre a importância de reutilizar materiais, transformando resíduos sólidos em novos objetos.
Formado por estudantes indígenas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em Sorocaba, o Centro de Convivência Indígena (CCI) promove a vivência Grafismos Indígenas sobre a representatividade e os significados dos grafismos utilizados pelos povos Tukano, Kambeba, Sataré Mawé e Wauja. Símbolos que invocam proteção ou resistência, por exemplo, utilizados em cerimônias ou manifestações, são aplicados sobre a pele do rosto ou dos braços com tinta natural de urucum.
Cinema
Usando óculos e fones de ouvido especiais, o público poderá participar de experiências de realidade virtual durante a edição 2023 do Circuito Sesc de Artes. Em Gravidade [Dir: Fabito Rychter e Amir Admoni, Brasil, 2020, 15 min], os espectadores se veem imersos em um filme de 360 graus e acompanham a queda livre de Osório e Benedito, dois irmãos que passam a vida em um tombo eterno: nesse mundo sem chão, tudo o que existe está sempre caindo. Osório vive em cima de uma geladeira e não se cansa de estudar o universo à sua volta. Benedito, mais intrépido, aproveita a vida sem muitos questionamentos. Gravidade está entre as obras selecionadas para o Festival de Cannes 2023.
Em Amazônia Viva [Dir: Estevão Ciavatta, Brasil, 2022, 10 min] o público é transportado para a região do rio Tapajós e viaja ao coração da floresta. Conduzida pela líder indígena Raquel Tupinambá, da comunidade Surucuá, a narrativa ajuda a entender a importância do local e de sua preservação. Em 2023, a obra levou o prêmio de Melhor Filme de Realidade Virtual 360° no Barcelona Planet Film Festival.
Da descoberta da câmara escura às máquinas de projetar filmes, a vivência Cine Película conduz os participantes pela história dos aparelhos que levaram ao surgimento do cinema. Guiado pelos monitores, o público é convidado a manipular brinquedos ópticos como o taumatrópio, o flipbook e o zootrópio, invenções do século XIX que permitiam obter efeitos de imagens em movimento. A última parada apresenta as câmeras e películas cinematográficas, além de um projetor elétrico em funcionamento.
Notícia publicada no site: www.acidadevotuporanga.com.br
Endereço da notícia: www.acidadevotuporanga.com.br/geral/2023/10/circuito-sesc-de-artes-chega-a-regiao-n77390