OMS escolheu este mês para reforçar atenção para saúde mental; Cisa alertou sobre relação entre álcool e problemas emocionais
Professor do curso de Medicina da Unifev fala sobre consumo de álcool e saúde mental (Foto: Redes sociais)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
Janeiro Branco. Este é o nome dado a este mês pela OMS (Organização Mundial da Saúde), para reforçar a atenção para saúde mental e prevenir patologias. E o Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) alertou, também neste mês, sobre a relação entre uso do álcool e problemas emocionais, alémdo aumento do consumo de bebidas alcóolicas no confinamento, durante a pandemia.
Quem ecoa essa preocupação é Reinaldo Carvalho, professor do curso de Medicina da Unifev, coordenador do Programa de Saúde Mental de Votuporanga e responsável técnico pelo Caps (Centro de Atenção Psicossocial) Álcool e Drogas do município.
Em entrevista ao jornal A Cidade, ele disse que também notou esse aumento no consumo. "Houve um crescimento significativo do consumo de álcool na pandemia, acho até que por conta de uma relação com as incertezas e ansiedades. Estou esperando as consequências disso", afirmou.
Álcool e saúde mental
Uma pesquisa da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), realizada em parceria com as universidades Federal de Minas Gerais e Estadual de Campinas entre abril e maio de 2020, indicou que o aumento do estado depressivo pode estar relacionado ao aumento do consumo de álcool relatado durante a pandemia. No estudo, 18% dos entrevistados (18,4% entre homens e 17,7% entre mulheres) afirmaram estar ingerindo mais bebidas alcoólicas nesse período.
"O álcool tem uma relação com o sofrimento emocional porque, enquanto substância, é uma depressora do sistema nervoso central. É como se o indivíduo buscasse no álcool um anestésico para os problemas emocionais", explicou o professor Reinaldo Carvalho.
Para o médico e psiquiatra Arthur Guerra, que também é presidente do Cisa, as pessoas tinham uma expectativa de que quando 2021 começasse uma chave da esperança da normalidade viraria. Mas os números da Covid-19 aumentam e, para ele, trazem a ideia de que o ano deve ser tão (ou mais) difícil que 2020. Isso acaba contribuindo para a piora da saúde mental do indivíduo.
Bons hábitos
A boa notícia é que existem dicas para a pessoa manter a mente saudável. Entre elas, segundo Carvalho, estão comer bem, fazer atividade física e ter convivência social. "O que a gente tem orientado para as pessoas é que, desde que se mantenha um certo cuidado da questão da contaminação e distanciamento, que você não pare sua vida por isso. No sentido de continuar tendo contato com as pessoas, mas agora de outra forma", ressaltou o professor da Unifev.
Ele destacou a importância de se fazer a "higine do sono", que consiste em ir para o quarto e se desconectar. "Nada de TV, nada de celular", explicou Reinaldo.
"Isso as pessoas não fazem mais. Ficam conectadas 24 horas. Quando a gente vive uma pandemia, as informações que vem são relacionadas a isso e raramente são boas. Ao invés de você se desligar, fica mais ligado. Isso aumenta a ansiedade e a tristeza. E aí a pessoa pode encontrar no álcool uma saída", disse.
De acordo com o psiquiatra Arthur Guerra, é extremamente importante ficar alerta ao menor sinal de aumento do consumo de bebida alcoólica nesse período. Isso porque ainda que para muitas pessoas esse consumo possa ser normal, para outras pode se tornar exagerado. "Às vezes não é dependência, mas está no caminho para se tornar", disse.
Onde buscar ajuda
Em Votuporanga, se a pessoa estiver enfrentando algum problema relacionado ao uso de álcool e/ou drogas pode buscar ajuda numa Unidade Básica de Saúde ou direto no Caps AD (Álcool e Drogas), que fica na rua Tocantins, 3809, no bairro Santa Eliza.
O professor, que também é responsável técnico do Caps AD, explicou ao jornal como o trabalho da instituição funciona. "Inicialmente, o indivíduo passa pelo que a gente chama de acolhimento, [em que] ele vai ser ouvido, a gente vai tentar entender qual é a relação que ele tem com o uso da substância que ele escolheu, estabelecer se isso fecha critério para dependência ou abuso e aí propor para ele um tratamento", disse. Esse tratamento é chamado de plano terapêutico na instituição.
Hoje em dia, por conta da pandemia, o Caps AD também realiza teleatendimento. Outra mudança necessária foi suspender os atendimentos em grupo, para evitar aglomerações. Mesmo assim, o responsável técnico explicou que as equipes que realizam os atendimentos são multiprofissionais.
Carvalho também acrescentou que o serviço do Caps é oferecido de forma gratuita, por meio do SUS.