Votuporanga vive uma pandemia e um surto de dengue ao mesmo tempo; Dra.Regina Silvia Chaves de Lima aborda o assunto
Dra. Regina Silvia Chaves de Lima explicou a diferença de sintomas entre dengue e Covid-19 (Foto: Santa Casa de Votuporanga)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuporanga.com.br
Em meio à pandemia do coronavírus, Votuporanga também vive um surto de dengue. De acordo com o último levantamento divulgado pela Secretaria Municipal da Saúde, 325 casos da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti já foram confirmados, ao mesmo passo em que a cidade vem registrando uma média de 30 ocorrências por dia de Covid-19.
Para complicar ainda mais esse cenário, as duas doenças têm sintomas semelhantes para os leigos e estão confundindo os votuporanguenses. Para tratar sobre esse assunto o jornal A Cidade conversou com a infectologista Dra.Regina Silvia Chaves de Lima, que é a médica responsável pela ala Covid-19 na Santa Casa de Votuporanga.
Confira a entrevista:
Quais são as semelhanças entre os sintomas de dengue e Covid-19?Como a população pode diferenciar uma doença da outra?
A diferenciação não é tão complicada e difícil quanto possa parecer num primeiro momento. O primeiro dia, é lógico, qualquer quadro infeccioso começa com indisposição e febre. Mas ao longo do segundo e terceiro dia, a gente já vê bem uma polarização dos sintomas.
A Covid tem sintoma respiratório. Além da febre, vai ter coriza, irritação na garganta, tosse, e depois, ao longo dos dias, a falta de ar, que é o quadro de dispneia e saturação.
A dengue fica na febre, na indisposição e vai se intensificando uma mialgia intensa, uma prostração, e o paciente não tem sintomas respiratórios.
Então, a partir do segundo e terceiro dia, a gente consegue realmente diferenciar, porque a dengue não tem sintoma respiratório.
Diante da pandemia e de um possível surto de dengue, o que fazer quando aparecerem os primeiros sintomas?
Diante da pandemia e da presença de casos ou até surtos da dengue, porque a gente vive uma endemia, no início do quadro vai ser usado um antitérmico, como qualquer outra patologia. Você trata a parte sintomática com hidratação, analgesia e antitérmicos.
Ao longo da evolução, polarizando, a gente tendo uma suspeita forte de que seja dengue, a gente vai seguir o protocolo de dengue, que é hidratação e fazer a notificação e todas as ações de bloqueio, para que a gente diminua a transmissão da dengue e seguir com o tratamento da dengue, que já é bem conhecido tanto para a equipe de profissionais quanto para as várias divulgações públicas que a gente tem em relação ao controle e ao tratamento da dengue.
Nos primeiros sintomas da Covid, a gente também vai começar com hidratação, antitérmico, analgésico, vai evoluir para sintomas respiratórios, até aí já passou por atendimento médico, vai ser feito a notificação, realização dos exames, confirmação do diagnóstico e toda a orientação com relação à evolução para um quadro grave e o tratamento específico da Covid, que é o uso de corticoide, a partir do sétimo dia, e, em casos específicos, um anticoagulante, para evitar as complicações trombóticas da Covid.
Há a possibilidade de contrair as duas doenças ao mesmo tempo? Se sim, o perigo é maior?
Em vigência de pandemia e endemia de dengue, é possível ter as duas infecções? É possível. Já existe uma discussão, uma descrição de literatura, tem um trabalho argentino, que avaliou seis pacientes que apresentavam Covid e dengue ao mesmo tempo. E a evolução é semelhante. A gente não tem, com a co-infecção, um agravamento maior da dengue nem da Covid. Elas caminham juntas aos sintomas, misturados, com sintomas respiratórios e exames específicos da dengue positivo, mas não tem piora em ambas as patologias.
Os tratamentos são diferentes para as duas doenças?
Em relação ao tratamento da dengue e da Covid, são diversos. Com exceção da hidratação, que em ambas o paciente tem que estar sempre atento à ingestão de líquidos com frequência, porque a dengue desidrata muito e a Covid desidrata um pouco menos, pela inapetência e pela fraqueza, que a Covid acaba gerando no quadro clínico inicial da patologia. Depois vai divergir.
Para a dengue, a gente não tem indicação de corticoide e anticoagulante. Muito pelo contrário. Na dengue, dentro do possível, a gente suspende o anticoagulante e os antiplaquetários, por conta do risco para a evolução para caso grave de sangramento.
Quais são as dicas de prevenção para Covid e dengue?
E dicas de prevenção, com relação à dengue, é manter o controle ambiental, para que a gente elimine os focos de multiplicação do Aedes, que é o vetor transmissor da dengue, uso de repelentes, telas, a notificação imediata, para que as ações de vigilância e agentes de saúde façam a visita e elimine o foco do criadouro para você diminuir a transmissão. A transmissão da dengue existe por conta do vetor. Se não tem o vetor, o Aedes aegypti, não vou ter a transmissão, porque ela não passa de homem para homem.
Já a Covid, a transmissão é respiratória, então respeitar o isolamento, se o paciente tiver com quadro clínico agudo de Covid, respeitar o distanciamento, com uso de máscara e higiene de mãos, e a vacinação para quem estiver disponível, frente à campanha do Ministério da Saúde.