Em entrevista exclusiva ao A Cidade, a médica do San Saúde, Amanda Carla Tosta, afirma que o uso desses dispositivos pode causar lesões no pulmão
A pneumologista, Amanda Carla Tosta Vieira, fez um alerta aos usuários sobre os perigos causados pelo cigarro eletrônico (Foto: Santa Casa de Votuporanga/Reprodução)
Lara Matozo
Estagiária sob supervisão
lara@acidadevotuporanga.com.br
O aumento do consumo do cigarro eletrônico, especialmente por jovens, tem gerado preocupação à saúde pública, isso porque o vapor emitido pelos aparelhos pode causar ou aumentar as chances de infecções pulmonares. Em entrevista exclusiva ao
A Cidade, a médica pneumologista do San Saúde, Amanda Carla Tosta Vieira, fez um alerta aos usuários sobre os riscos causados pelo dispositivo.
Os cigarros eletrônicos estão em circulação no mercado desde 2007 e são conhecidos por vários nomes como: vape, e-cigs ou pendrive. A princípio, esses dispositivos surgiram com a promessa de auxiliar os fumantes a largarem o vício pelo cigarro convencional, mas Amanda afirmou que o uso dos e-cigs é tão prejudicial quanto o do cigarro comum.
“Várias entidades manifestaram-se contrários ao uso do cigarro eletrônico, como Associação Médica Brasileira, European Respiratory Society, Sociedade Brasileira de Pneumologia, e até a Sociedade Americana de Câncer, contraindicando o uso para cessação do tabagismo. Desta forma, os profissionais de saúde não devem incentivar o fumante à troca por estes produtos, mas sim recomendar, motivar e disponibilizar as formas de cessação do tabagismo, baseadas em evidencias cientificas, como, por exemplo, programa específicos ”, explicou.
Um dos casos mais recentes e que gerou repercussão nacional sobre os riscos do cigarro eletrônico, foi o do cantor sertanejo Zé Neto, que faz dupla com Cristiano. Em dezembro do ano passado ele precisou iniciar um tratamento após ser diagnosticado com um “foco de vidro no pulmão”, que teria sido causado pelo cigarro eletrônico.
Estes dispositivos funcionam a base de bateria e contém refil, que armazena um liquido composto por nicotina, solventes, água e várias outras substâncias, como flavorizantes. Dispositivos eletrônicos para fumar são aparelhos compostos por lítio com diferentes mecanismos de funcionamento, não produzem fumaça, mas sim, um vapor ou aerossol; por esse motivo são propagados, de forma equivocada, como menos prejudiciais à saúde.
Desde 2009, a Anvisa proíbe a venda, importação e propaganda dos cigarros eletrônicos, pois os dados científicos que podem comprovar a segurança dos aparelhos ainda são pouco conhecidos. A proibição também considera os riscos de doenças respiratórias e a possibilidade de explosão da bateria, que poderia causar queimaduras. A permissão do Ministério da Saúde compreende apenas o seu uso.
Por se tratar de um aparelho que contém um cartucho com tendências a possuir nicotina liquida, o cigarro eletrônico pode levar os usuários ao vício. “Um dos tipos de e- Cigs, o JUUL, por exemplo contém uma concentração absurdamente elevada de sais de nicotina, que é combinação da nicotina com ácido benzóico, camuflando seu gosto característico, e facilitando a tragada, conhecido como supernicotina. A cada pod – refil de e-líquidos, desse tipo de e- Cigs corresponde a 200 tragadas, ou seja, um maço de cigarro tradicional”, frisou a médica.
Riscos
O uso exagerado do cigarro eletrônico, pode causar lesões no pulmão. A médica explica que os e-cigs tem potencial para desenvolvimento de doenças cardiovasculares tanto para os usuários, quanto para quem fica exposto.
“Estudos evidenciam que, em curto prazo, usuários dos e-Cigs tiveram um aumento de 42% para o risco de infarto agudo do miocárdio, e elevação de 48% na chance de surgimento de asma em adolescentes. Os e-Cigs são um risco potencial para doenças cardiovasculares tanto entre seus usuários quanto entre os expostos passivamente ao seu aerossol, não sendo, portanto, recomendado o uso destes dispositivos em ambientes fechados - como tem sido visto em grande parte de festas, reuniões e eventos hoje em dia”, disse.
A especialista também alertou que, pelo fato dos cigarros possuírem sabores, aumenta a taxa de experimentação, principalmente pelo público jovem.
“O crescimento no consumo dos dispositivos eletrônicos é alarmante entre os jovens, principalmente nos EUA e alguns países da Europa, e tornou-se pouquíssimo espaço de tempo, um risco real a milhares de jovens americanos, levando a irreversíveis danos à saúde e até ao óbito. Além dos danos pulmonares, exames com neuroimagens do cérebro de jovens que iniciaram tabagismo, evidenciam uma redução acentuada da atividade no córtex pré-frontal – área do cérebro responsável pela cognição e tomada de decisões. Assim claramente, compreendemos que o uso dos desencadeia uma intensa fissura no cérebro jovem, difícil de ser controlado e em pouco tempo”, salientou Amanda.
Trocar o cigarro tradicional pelo eletrônico, portanto, não modifica os riscos ao pulmão, respiração, a atividades inflamatórias e o risco de arritmias cardíacas. “Os e-cigs são apenas uma inovação tecnológica para alterar a forma de entrega de nicotina, e seu uso deve ser desestimulado fortemente em toda população, principalmente entre os jovens. ”, finalizou a pneumologista.