Da Redação
Estar próxima dos 40 pode significar decadência ou então, pelo lado construtivista, o início de uma vida jovial, interessante e dinâmica. Hoje sabemos pelo IBGE, que a expectativa de vida para as mulheres brasileiras é de 72,6 anos. Esse dado, apesar de animador para algumas, pode significar um sofrimento terrível, caso não haja um investimento na qualidade de vida durante o climatério, responsável por praticamente metade dos anos vividos pelas mulheres.
Climatério é uma palavra de origem grega que significa período de crise ou mudança,estendendo-se dos 40 aos 65 anos e tendo um significado de passagem entre a vida reprodutiva e a menopausa.
Para o psiquiatra e coordenador do Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher-Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, Joel Rennó Jr., viver com qualidade de vida é o sonho de consumo de todo o gênero feminino. O problema é que muitos se concentram apenas nos fatores geradores de estresse: desemprego, violência, crise social, trânsito congestionado e esquecem-se dos recursos internos para lidar com as atribulações, o que leva a demandas impossíveis que causam a exaustão ou "burn out", estágio final do estresse crônico que significa o início da depressão.
Uma vez que os sintomas psíquicos existem, eles podem variar na intensidade e freqüência, necessitando de cuidados médicos e psicológicos. Entre os fatores que alteram o impacto de tais sintomas psíquicos, incluem-se as questões sócio-econômicas, o nível de escolaridade, a raça e a cultura.
Nas culturas onde as mulheres de meia-idade são valorizadas e nas quais elas possuem expectativas positivas em relação ao período do climatério, o espectro sintomatológico é menos abrangente e intenso.
Sintomas do climatério
Os sintomas psíquicos climatéricos são caracterizados por tristeza, desânimo,cansaço, falta de energia, depressão, ansiedade, irritabilidade, insônia, diminuição de atenção, concentração e memória, pensamentos negativos (morte, ruína e culpa), perda do prazer ou interesse pelas questões cotidianas e diminuição da libido.
As mulheres com antecedentes da disforia pré-menstrual (forma acentuada de TPM) e depressão pós-parto têm mais chances de terem depressão no climatério, bem como aquelas com grande desconforto físico causado pelos fogachos (ondas de calor).
A ciência começou a desconfiar da interferência do hormônio feminino estrógeno sobre os quadros afetivos, a partir da comprovação das suas várias ações sobre o cérebro, principalmente na secreção dos mensageiros químicos responsáveis pelo bom humor. Algumas mulheres são mais sensíveis às flutuações hormonais típicas do período. Porém, nem tudo que reluz é ouro, ou seja, há mulheres que não sofrem a interferência da baixa do hormônio feminino. O contexto global de vida destas mulheres deve ser analisado individualmente.
Hábitos ruins de vida envolvendo alimentação inadequada, sedentarismo, ausência de lazer; aposentadoria precoce, relacionamentos familiares e conjugais conflitantes e pensamentos pessimistas, bem como todo o histórico de vida das pessoas, devem ser levados em consideração pelos profissionais. Mulheres com expectativas mais positivas em relação ao envelhecimento tendem a sofrer menos dos sintomas, ao adotarem hábitos de vida saudáveis, investindo nos equilíbrios físico e mental.
O ideal é sempre a prevenção, com cuidados que envolvam as mudanças comportamentais necessárias. Quando os sintomas tornam-se significativos, prejudicando várias esferas da vida feminina, deve-se procurar um médico que poderá indicar outros profissionais como psicólogos, ginecologistas, endocrinologistas e nutricionistas.
Como diminuir os sintomas do climatério
Medidas simples e úteis incluem o combate ao estresse, através de técnicas de relaxamento corporal, mudanças de atitudes e comportamentos, tais como exercer
uma atividade de trabalho que goste, morar perto do local de trabalho e delimitar prioridades nas atividades cotidianas, como horas de lazer e leitura, além de ser otimista perante às adversidades...
Atividades físicas, respiração profunda e dietas equilibradas. Quando o estresse evolui para um quadro depressivo, a psicoterapia, o tratamento de reposição hormonal e mesmo o uso de antidepressivos são importantes terapêuticas que devem ser encaradas com naturalidade e sem preconceitos.
A duração do tratamento varia de acordo com a gravidade e incapacitação gerada
pelos sintomas, cabendo ao médico esclarecer todos os aspectos envolvidos. O conceito de cura aqui é diferente, um dia de cada vez deverá ser vencido.
Como o climatério influencia na saúde mental
- Mudanças na perspectiva cronológica: a relação com os pais se atualiza na relação
com os filhos jovens e adolescentes, mas com papéis invertidos. (exemplo: cuidados
com os pais idosos)
- Reversão nos ritmos exterior e interior de transformação: agora são os filhos que
crescem rapidamente e os pais que envelhecem no mesmo ritmo. Luto pela
consciência da natureza efêmera da vida humana.
- Limites da criatividade: percepção dos próprios limites do passado e a restrição para
as realizações no futuro. Outras pessoas, provavelmente, ultrapassarão estas
limitações, colocando em pauta a questão do amor e do ódio para consigo e para com
os outros.
- Identidade do ego na perspectiva do tempo: o novo conhecimento da meia-idade
sobre as próprias limitações consolida a identidade do ego, diferentemente do
passado. Aceitar a si mesmo é aspecto importante da maturidade emocional, com
reflexos em todos os relacionamentos.
- Ajuste de contas com a agressão exterior: enfrentamento realístico dos ataques que
permeiam o ambiente adulto, sem explorá-los, sem negá-los, sem submeter-se ou por
eles ser corrompido. Aceitação do fato de que a responsabilidade final é para consigo
mesmo.
- Perda, luto e morte: o enfrentamento da perda dos pais, irmãos, parentes e amigos
somam-se às próprias manifestações de envelhecimento, reforçando a consciência do
possível adoecer e morte pessoal. A aceitação de perdas e fracassos pessoais deve
permitir a sensação de contar com recursos suficientes para a aceitação de si mesmo e
a reconstrução de uma vida significativa, tendo por base o narcisismo normal.
- Conflitos edipianos: nova reativação do Complexo de Édipo seja pelo crescimento
dos filhos, pelas experiências concretas na vida social e grupal ou pelas vivências
com os pais enfraquecidos rumo à morte.