"A diferença entre classes sociais baixa e alta é um fator agravante", afirma psicóloga
A incidência de adolescentes grávidas em Votuporanga tem diminuído ao longo dos anos. Esta é uma das questões que mais afligem os pais de adolescentes. A
preocupação é compreensível sob todos os pontos de vista: o organismo da jovem não está pronto para a maternidade, que também não está amadurecida psicologicamente para assumir uma responsabilidade desse porte. Além disso, ela não é financeiramente autônoma, não tem profissão e nem ao menos completou seus estudos.
De acordo com a coordenadora do Prosad (Programa de Sáude do Adolescente) de Votuporanga, Rosely Maria Eleutério Rodrigues, a diferença entre classes sociais é um fator agravante. "A classe alta tem um projeto de vida, a faculdade em primero lugar, enquanto a classe baixa não tem. Para elas ter filhos e um companheiro está de bom tamanho, já é suficiente", explicou a especialista.
Segundo ela, reduziu 23% para 13% o número de adolescentes grávidas na cidade, até o fim do ano passado.
Uma gravidez planejada é normalmente uma notícia de alegria, mas nesse caso surpreende e assusta, pois não raro se vê meninas de menos de quinze anos, acreditando que ter um bebê é como se vê nas novelas, e seus pais sabem que não é assim! Mas brigar, repreender, bater, expulsar de casa, está fora de cogitação: a
solução é sentar, conversar e tentar saber o máximo possível para ajudar, orientar e diminuir o impacto que essa menina terá na vida a partir de agora.
A começar pelo básico como consultar um ginecologista é fundamental. Como foram as condições em que essa jovem engravidou devem ser examinadas, assim como suas condições de saúde para enfrentar a gestação. Por mais forte que seja e mais saudável, exames serão necessários assim como um pré-natal cuidadoso. A gravidez na adolescência envolve riscos: maior incidência de anemia materna, pressão alta, parto complicado, infecção urinária, prematuridade do bebê e até mesmo infecções pós- parto.
Em seguida, uma conversa com a filha e se possível com o pai do bebê. Chamar os
dois para suas responsabilidades em relação ao filho que vai nascer é indispensável: não cabe aos futuros avós assumirem essa maternidade/paternidade. Aliás, as duas famílias devem se conhecer e conversarem sobre os rumos que devem ser dados. De toda forma o que é básico é se lembrarem de que esta é uma situação que ocorreu por falta de responsabilidade desses jovens, falta de vivencia das conseqüências de seus atos em situações anteriores e não é interessante repetir os mesmos erros.
Tanto a jovem grávida, quanto o pai do bebê, devem aproveitar esta situação para
crescerem e amadurecerem, buscando soluções de como farão para criarem seu filho. Essa criança precisa dos pais como todas as crianças. E precisa de avós, mas no papel de avós e não de pais “postiços”, como vemos tantos por aí. Sinalizem claramente que estão dispostos a ajudar, mas não a fazer por eles o que é de sua responsabilidade.
Além disso, continuar os estudos é fundamental, mesmo porque se a jovem parar,
depois que tiver o bebê será difícil retornar à escola. No Brasil, apenas 30% de
adolescentes que tinham engravidado voltaram e concluíram os estudos. E dos estudos depende o futuro profissional e entre tantas responsabilidades, essa não pode nunca ser esquecida.
No Prosad, o acompanhamento é feito com diferentes temas abordados. "Trabalhamos muito a autoestima para as jovens não terem gravidez precoce", explica Rosely. Ela defende que a gravidez indesejada atropela a vida das jovens. Além do apoio após o nascimento do bebê, "a adolescente gestante faz o pré-natal no Ambulatório e depois que o bebê nasce participa do grupo de bebês", disse.
Além da gravidez precoce, outros problemas também são incidência entre os
adolescentes. De acordo com as informações de Rosely, conflitos familiares e drogas, como também Distúrbio de Aprendizagem, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
O Prosad
O Prosad (Programa da Saúde do Adolescente) é um programa nacional desenvolvido em Votuporanga pela Secretaria Municipal da Saúde, sob a coordenação da Secretaria de Estado da Saúde. O trabalho é feito com o Ambulatório do Adolescente com grupos educativos, consultas médicas e palestras da equipe multiprofissional na comunidade. A psicóloga Rosely coordena o projeto em Votuporanga desde o início, em 1997.
O atendimento é semanal e acontece às terças-feiras no Ambulatório do Adolescente, que funciona no PAS do Jardim das Palmeiras.
De acordo com a especialista, no bairro Pró-Povo tem uma equipe do PAS, que
trabalha a prevenção com grupos educativos e consultas médicas. As equipes são
multiprofissionais. O atendimento é destinado a adolescentes de 10 a 20 anos de idade, também gestantes e familiares ou acompanhantes.
Como metodologia das atividades do programa, foram formados grupos educativos que têm como objetivo garantir um espaço de discussão entre adolescentes, familiares, gestantes e os profissionais sobre essa fase da vida. Assim procurando esclarecer, orientar, discutir, integrar, trocar experiências e garantir referência e contrarreferência do sistema de saúde, educação e judiciário, caso necessário.
Entre as atividades do Prosad, o Projeto Janela que são atividades da equipe junto à comunidade, como escolas, igrejas e o Centro Social.
Anualmente, no mês de outubro que é o mês do adolescente, a equipe do Prosad, em parceria firmada com a Diretoria de Ensino e Rotary Club Novo Milênio, capacita adolescentes multiplicadores, alunos das 8ª séries e colegial, para serem os protagonistas da prevenção da gravidez precoce, DST/AIDS e drogas na própria escola.