Na sexta-feira, dia 8, logo depois do “Globo Repórter”, estreia a série “Amorteamo”, como parte das comemorações dos 50 anos da Globo.
A história de “Amorteamo” é atemporal. Para narrar esse melodrama do sobrenatural, a diretora Flávia Lacerda resgata referências clássicas do audiovisual, mesclando técnicas tradicionais do cinema e efeitos visuais contemporâneos que potencializam a estética romântica e misteriosa. “O texto trabalha com elementos mais fantásticos e a gente se inspirou muito no que acontecia culturalmente no mundo no início do século XX. Trouxemos tudo isso para contar nossa história de amor, que é um melodrama”, explicou a diretora Flavia Lacerda. Associando linguagens do expressionismo, do cinema mudo e do teatro circense, nas quais as distorções e exageros dão o contorno das inquietações das personagens. “É um produto sofisticado, mas ao mesmo tempo popular. O cinema do início do século passado era exibido nas feiras públicas. A ideia é realçar, a partir da recriação dessas referências, o melodrama, a arte popular”, ressaltou Guel Arraes, um dos criadores da série, em parceria com Cláudio Paiva e Newton Moreno.
O fio condutor são dois triângulos amorosos. O primeiro formado por Aragão (Jackson Antunes), a mulher Arlinda (Letícia Sabatella) e o amante dela, Chico (Daniel de Oliveira). O segundo, por Malvina (Marina Ruy Barbosa), Lena (Arianne Botelho) e Gabriel (Johnny Massaro), fruto da relação extraconjugal de Arlinda e Chico, mas criado como filho por Aragão. Gabriel nasceu sob o signo da morte, numa Recife do início do século XX. Foi concebido minutos antes de seu pai ser morto por Aragão num rompante de ciúme ao flagrar a traição em sua própria cama. Mas para Chico, a morte não foi o seu fim. E, mesmo morto, se fez presente dia após dia na vida daquela família.
Anos mais tarde, Gabriel vê novamente a morte enredar seu destino. Apaixonado desde a infância por Lena, o rapaz foi obrigado a casar com Malvina, filha misteriosa e sombria de um agiota da cidade que salvaria sua família da ruína financeira. Para impedir o enlace entre Lena e Gabriel e garantir o casório, Aragão fez ainda Gabriel e Lena pensarem que são irmãos. Vendo o sofrimento do filho, Arlinda conta a verdade sobre a origem de Gabriel. Diante disso, ele se vê livre para viver seu verdadeiro amor e abandona Malvina na porta da igreja.
Malvina, abatida por um histórico de abandono, se atira da ponte da cidade e morre afogada. Massacrado pelo remorso, Gabriel viola o túmulo de sua noiva e leva seu corpo para casa, trazendo consequências funestas: Malvina volta à vida e traz com ela todos os mortos da cidade. Num primeiro momento, os reencontros com os devolvidos da morte trazem alívio e felicidade para quem sofria suas perdas. Mas o povo não demora a descobrir que não se muda o curso natural da vida impunemente.
Além dos triângulos amorosos, outros núcleos como o bordel de Dora (Maria Luiza Mendonça) e do bar da Cândida (Guta Stresser) e Manuel (Aramis Trindade) costuram esse universo de sentimentos exacerbados como amor, morte, culpa e vingança. Cândida, Manuel e Jeremias (Bruno Garcia) conduzem o núcleo cômico da produção o qual entremeará as histórias de amores interrompidos, abandonos, culpas e traições.
Num Recife do início do século XX, ponto de partida da série, Manoel é o dono do bar próximo ao bordel de Dora e à igreja. A visão privilegiada é um prato cheio para sua esposa Cândida, a maior fofoqueira da cidade, sempre atenta aos acontecimentos do entorno. Até que um dia o falecido Jeremias, primeiro marido de Cândida e irmão de Manuel, volta ao mundo dos vivos, disposto a resgatar três coisas: sua mulher, que vive com Manuel desde a morte do marido; o bar, que também foi herdado pelo irmão; e sua antiga peruca, que hoje adorna a cabeça de Manuel. A volta de Jeremias deixará Cândida dividida e o irmão ameaçado. As confusões provocadas por esse retorno não serão poucas.
A série também promete chamar a atenção do telespectador por causa do figurino especialmente criado para esta produção, sem contar as perucas que foram confeccionadas para marcar a passagem do tempo através do crescimento dos cabelos de seus personagens.
O figurino de “Amorteamo” é marcado pelo encontro do tradicional com o moderno. Peças clássicas do final do século XIX e início do XX ganham uma releitura atual com formas pontudas e proporções irregulares, criada pela equipe de figurino conduzida por Cao Albuquerque, que reforçam a estética disforme da série. Vestidos, calças e até chapéus foram customizados para integrar esse universo pouco tradicional. “Queríamos gerar um interesse visual. É um figurino fabular, o que pode ser divertido. Usamos itens mais antigos com mais contemporâneos”, explicou o figurinista.
A intenção é mesmo impressionar o telespectador. O tema não é exatamente novo quando se toma por base algumas séries americanas exibidas pelos canais pagos que contam histórias de mortos que ressurgem do nada e tumultuam a vida de seus familiares, mas isso não desabona a ideia da série que quer agradar e alavancar a audiência da emissora.