A Virada Cultural Paulista apresenta em Votuporanga no dia 30 de maio, o espetáculo A Rainha do Rádio, de José Safiotti Filho, com a Companhia A Quatro Mãos.
A peça explora temas de contundente crítica social, tais como as relações de poder, as pequenas opressões as quais as pessoas são submetidas em seu cotidiano, a hipocrisia, a censura, dentre outros que permeiam as relações humanas.
A dramaturgia, escrita por José Saffioti Filho em 1976, conta a história da personagem Adelaide Fontana, locutora recém-despedida de seu programa de poesias da Rádio Esperança do Interior. Inconformada com a justificativa de que o motivo de sua demissão seria a decadência da audiência de seu programa, a locutora invade a emissora à meia-noite e explica aos ouvintes os motivos pelos quais foi demitida, entrega os podres de gente conhecida e faz uma verdadeira desconstrução da cidade, apontando a hipocrisia da sociedade. Por tocar em assuntos proibidos, a personagem desperta a ira de seus opositores, em um período marcado pela censura e suas imposições.
A estreia desta montagem aconteceu em 2013, coincidindo com o ano de falecimento de Cleyde Yáconis, primeira atriz a dar vida a protagonista de A Rainha do Rádio, sob a direção de Antônio Abujamra em 1976. Em conversa com o diretor, as atrizes da nova montagem sentiram a grande responsabilidade de recontar a história. “Admiramos muito o Abujamra e conversar com ele foi um momento muito marcante em nossa trajetória” afirmou a atriz Bárbara Zampol.
Nesta nova versão, as atrizes interpretam a locutora, uma, representando as facetas mais idealistas, sentimentais e poéticas da personagem, enquanto a outra representa as facetas mais realistas, racionais e eróticas dela. Ambas mantém em sua composição uma unicidade e sincronicidade, apresentando ao público dois planos: o da “memória”, composto pelas cenas em que a personagem Adelaide fala com o público da Rádio Esperança, emitindo algumas verdades nunca antes ditas, que a leva ao segundo plano, o do presente, em que está debilitada em um cárcere.
“Os planos são revezados e, por vezes, acontecem simultaneamente. Assim, não é entregue desde o início ao público que determinadas cenas representam o passado da personagem (plano memória – estúdio da rádio) e as outras, o momento atual (plano presente – cárcere)”, contam as atrizes.
Com direção de cena de Juliana Monteiro, que também dirigiu o espetáculo Os meninos e as pedras, premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA, e direção de elenco de Edgar Castro, da Cia Livre de Teatro, o espetáculo conta com trilha sonora de Daniel Maia, que também assinou a música original e trilha sonora dos espetáculos O Andante, Západ- a tragédia do poder e Fukushima MonAmour, e cenografia do cineasta e artista plástico Luciano Figueiredo. “Chamamos pessoas que respeitamos para trabalhar no projeto. Eles somaram conceitos e experiências. Temos orgulho do resultado, fruto da união de grandes profissionais”, finalizou a atriz Isabella Veiga.