Uma ilha situada no estado do Amazonas, às margens do Rio de mesmo nome, distante quase 400 quilômetros de Manaus e já próximo do estado do Pará
Julio André Piunti
Como é que uma cidade de apenas 80 mil habitantes, quase no meio do nada no norte do nosso país, consegue atrair todos os anos a atenção de milhares de pessoas?
Assim é Parintins.
A cidade por si só já é inusitada. Uma ilha situada no estado do Amazonas, às margens do Rio de mesmo nome, distante quase 400 quilômetros de Manaus e já próximo do estado do Pará.
Pois todo ano, durante o mês de junho, a ilha divide o nosso Brasil em azul e vermelho, no festival dos bois Caprichoso e Garantido. Para quem não conhece, vale a pena viver essa experiência, que reúne arte, cultura, religiosidade, história, literatura, música, lendas e folclore. Simplesmente fantástico.
O Festival
O festival acontece durante três noites, sendo que cada boi tem o tempo de até 2 horas e meia por noite, com a apresentação de 21 quesitos: apresentador; levantador de toadas; batucada; ritual; porta-estandarte; amo do boi; sinhazinha da fazenda; rainha do folclore; cunhã poranga; boi bumbá (evolução); toada (letra e música); pajé; tribos indígenas; tuxaua luxo; tuxaua originalidade; figuras típicas regionais; alegorias; lenda amazônica; vaqueirada; galera; coreografia, organização/animação/conjunto folclórico.
Diferente de um desfile de carnaval, onde as escolas percorrem uma linha reta até a faixa final, a apresentação de Parintins ocorre dentro do bumbódromo, uma espécie de estádio com o formato de uma cabeça de boi estilizada, num tamanho de 25 mil metros quadrados.
Esse já é um dos grandes desafios, pois a agremiação tem que entrar e sair com seus componentes e alegorias pelo mesmo lugar, sem deixar a evolução cair. Por isso, às vezes vários “carros alegóricos” se fundem em um só, deixando o espetáculo ainda mais interessante.
Outra forma utilizada são guindastes que ficam fora da arena. Eles trazem figuras enormes, à vezes maiores de 20 metros de altura, que dão a sensação de chegarem voando ao bumbódromo.
Mais de 400 ritmistas embalam a “toada”, como é chamada a música dos bois. As letras das canções resgatam o passado de mitos e lendas da floresta Amazônica, sendo que muitas incluem também sons da floresta e canto de pássaros.
A rivalidade é tanta que latas especiais das bebidas vendidas no local são feitas para cada torcida. E também não se pode chamar o boi adversário pelo nome, mas sim apenas de “o boi contrário”.
O clima começa agitado já nas ruas de Parintins. Uma vez dentro do bumbódromo, as luzes se acendem para a torcida do boi que está se apresentando, enquanto a outra metade dos torcedores aguarda sem se manifestar, em sinal de respeito e para não atrapalhar o evento.
A apuração acontece na segunda-feira seguinte, mas o que conta no final são os dias de folia e alegria vividos nas noites anteriores.