Segundo ela, é importante que as mulheres, que foram caladas ao longo do tempo, falem e sejam ouvidas, que elas sejam cada vez mais protagonistas de suas histórias
Aline Ruiz
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Com seus 27 anos, Zulaiê Breveglieri é formada em Direito pela UEL, faz atualmente mestrado em Direitos Humanos pela Unesp e, ao lado dos estudos, possui uma carreira artística no grupo de samba Iaiá-Me-Sacode. A votuporanguense, que atualmente vive na cidade de São José do Rio Preto, encara tudo o que faz com muita persistência e responsabilidade. Filha da Maria Elena Breveglieri e do delegado de polícia aposentado, José Francisco Breveglieri, ela defende que, como mulheres, é preciso dar a nossa cara, a nossa visão de mundo e as nossas contribuições com as nossas particularidades
“Estamos vivendo um momento em que os grupos historicamente marginalizados tem se organizado e se posicionado diante das exclusões da nossa sociedade. A questão do machismo, do racismo, da homofobia e de outras opressões estão sendo visibilizadas. A segregação e a discriminação não têm sido mais toleradas ou vistas como algo ‘natural’, e isso é muito importante”, afirmou Zulaiê.
De acordo com mestranda em Direitos Humanos, a questão do protagonismo e da liberdade feminina tem sido muito discutida e as mulheres estão se articulando cada vez mais. “No entanto, os dados estatísticos ainda são preocupantes. A situação das mulheres no mundo ainda é dramática. Nascer mulher significa ter mais probabilidade de viver na pobreza. A violência contra a mulher ainda é muito expressiva, em suas mais diferentes formas. Menos de 2% das mulheres ocupam cargos de alta gestão em empresas privadas”, contou.
Zulaiê afirmou que o mundo em que vivemos é historicamente protagonizado por homens e seu universo. “O feminino e o papel da mulher foram pensados por homens e seus parâmetros. Desde as primeiras conquistas dos movimentos feministas até hoje muito se reconheceu em favor da dignidade da mulher e seu reconhecimento enquanto ser humano plenamente capaz, tanto em termos jurídicos quanto intelectuais. No entanto, tudo isso ainda é muito recente se comparado ao período em que a mulher esteve calada e submetida ao universo masculino”, explicou.
Mas, ressaltou Zulaiê, com o passar do tempo, essas lutas vão se aprimorando e se consolidando cada vez mais, o que aumenta a coragem da mulher em não ficar calada e se posicionar diante das situações. “É preciso que cada vez mais mulheres ocupem os espaços da sociedade e que tenham consciência de que o discurso machista imposto não precisa mais ser obedecido. Para isso é preciso articulação”, contou.
Ela ainda ressalta que é muito importante ver uma mulher exercendo protagonismo e sendo reconhecida em espaços tradicionalmente ocupados por homens em sua esmagadora maioria. “Faço questão de deixar isso destacado em tudo que faço, seja na Universidade, na música ou em qualquer situação. É preciso reconhecer as desigualdades de classe social, de raça, de orientação sexual, e também a violência causada pelos padrões impostos pela nossa sociedade, que ainda reproduz os discursos de opressão. É importante que esses grupos que foram calados ao longo do tempo, falem e sejam ouvidos, que eles sejam cada vez mais protagonistas de suas histórias”, concluiu.