Um economista contou que a corrupção é problema ético, e não econômico. Por um lado, não estaria entre as razoes que explicam atraso ou ineficiência econômica. Portanto, suas consequências econômicas seriam limitadas.
Disse que corrupção seria lubrificante eventual da economia, evento sem importância no grande esquema das coisas.
Ele não vive no mundo real. Ignorei o economista.
Um empresário contou que corrupção é parte do custo de fazer negócios. Bom investimento, que no fim facilitaria a realização de negócios tornando mais eficiente e rápido a realização do empreendimento, sem qualquer prejuízo ao usuário do produto final. Controles mais apertados e processos mais rigorosos sairiam, contou ele, mais caro. Sem corrupção, seria impossível empreender.
Era desculpa autoindulgente. Não acreditei no empresário.
Um político disse que corrupção é necessária. Democracia é cara, disse. E, como tudo que é caro, precisaria ser custeada. Sem doações polpudas de origem duvidosa, não seria possível ser eleito e defender os interesses do povo. Caixa dois, ou, como preferem os políticos, recursos não contabilizados, seriam simplesmente uma necessidade da democracia.
O argumento soou cínico. Não ouvi o político.
Um ativista político contou que existe corrupção justificável. Dependeria de quem pratica. E de quais as intenções. Se for por um bem maior, tudo bem. E dependendo de quem a pratica, nada seria imperativo moral ignora-la. Obrigação cívica mesmo. Corrupção, portanto, seria boa em alguns casos e aceitável para algumas pessoas. Mas condenável em todos os outros casos e pessoas.
Não soou justo. Nem bom. Melhor não levar o ativista a sério.
Um cidadão contou que depende da corrupção. Se for pequena, não tem importância. O que importaria é o valor envolvido. Não existiriam problemas em pequenos pagamentos que aliviam o vida e o dia-a-dia dos pequenos inconvenientes aos quais estariam sujeitos caso não houvessem esses pagamentos. E as consequências, inócuas. Que mal poderiam criar alguns cobres trocando de mãos? Até valeria a pena. Não pegar fila, não levar multa, ou poder estacionar em lugar proibido seriam recompensas suficientes.
Achei desconcertante. Tomar errado como certo é nocivo no presente e no futuro. Pior que aceitar corrupção como normal, é ensinar as gerações futuras a corromper ou serem corrompidas. Fiquei pasmo. Não soube o que dizer.
Um passarinho me contou que corrupção é ruim. Sempre. Atrasa, destrói, empobrece, desvirtua a democracia, torna tudo mais caro e sem qualidade. Mas grave que tudo, insere a corrupção entre os hábitos e costumes aceitáveis e aceitos por cidadãos comuns, tornando-os complacentes. Quando a tolerância é consenso, corrupção vira cultura. Fica imperceptível. É transmitida de geração a geração. Subtrai mais que o dinheiro. Rouba a vergonha, o que não faz o corrupto mais rico, mas torna a todos mais pobres.
Acreditei no passarinho.