Tempestades, vendavais em geral, levantam poeira, desarrumam qualquer establishment e obrigam todos a olhar embaixo dos tapetes.
É quando não adianta, você tem que olhar debaixo do tapete; você tem que tirar o tapete da sala; e se tiver outros tapetinhos, também.
Quanto mais tapetes, mais coisas para ver.
Folhas e falhas para todos os lados; a umidade faz coisas.
Aquele terreno todo empoeirado e enfolhado desalenta. Dá mesmo vontade de chorar.
E se você contratar alguém para limpá-lo em seu lugar, sabe que dificilmente será bem limpo, porque, como é cediço, se quiser alguma coisa realmente bem feita, terá que fazê-la você.
É quando, então, você posterga.
Deixa pra amanhã.
E amanhã, outro vendaval - estamos em novembro, e, em novembro chove. Antigamente era em setembro que chovia, mas as coisas mudaram, meu caro.
Se bobear é vendaval o ano todo.
É aquele festival de folhas de um lado, e você e sua vassourinha de outro.
Ah! Se essa vassoura voasse, não é mesmo?
E você posterga.
E posterga.
Daí a pouco o quintal é imagem do abandono.
Aquelas cadeiras alí, peraí, aquilo é ferrugem?
É.
E você não tirou as folhas da primeira chuvarada.
No feriado você limpa. Tudo!
Que nada, no feriado não dá nem pra descansar direito: e olha aquilo ali. Queé aquilo? Que insetos estranhos! Esses eu não conhecia!
Insetos de todos os matizes surgem como por encanto: é que onde acumula sujeira, acumula sujeira.
Sujeira pra todo lado.
Onde você colaca os olhos tem sujeira.
E insetos. E ferrugem corrompendo as estruturas. As de ferro.
Você sabe, nos trópicos as coisas se corrompem muito facilmente: a umidade faz coisas.
A coisa fica feia e você desiste da vassourinha; essa vassourinha não vai dar pra nada!
Pois é, demorou pra antever o dano, agora o jogo mudou. E você está perdendo.
E feio.
É novembro e em novembro agora chove. Muito.
Passa pela sua cabeça deixar como está, pra ver como é que fica.
Geeeennnte! Enfrentar este terreno baldio?
É, agora é terreno baldio.
Estéril. Aqui não dá mais nada.
Você pensa em vender.
Ninguém vai dar mais nada. Por esta terra.
Você e sua vassourinha. Contra um mundo de mosquitos. E varejeiras das brabas.
Ai que nojo.
Pois é.
Você pensa em chamar uns amigos para um mutirão.
Vai precisar de uma multidão pra mudar este cenário.
E tá todo mundo meio cansado; todo mundo com o quintal sujo.
Pois é.
Novembro tem chovido muito.
É quando você levanta, e pega a vassourinha.
Vai limpando aos pouquinhos.
Angu quente se come pelas beiradas.
Hum, angu.
- Maria faz uma sopa de legumes hoje!