Benito de Paula ia ficar furioso de novo. Mas a trilha musical da quase substituição do tucano Antônio Imbassahy pelo peemedebista Carlos Marun na Articulação Política – na sequência da troca de Bruno Araújo pelo indicado do Centrão, Alexandre Baldy, nas Cidades – só poderia ser ela mesma: “Tudo está no seu lugar/ Graças a Deus/ Graças a Deus...”, já começavam a cantar os peemedebistas pelos cantos, assim como Marun festejou e cantou no plenário da Câmara após a derrota da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer.
Na ocasião, o desafinado Marun acrescentou uma rima improvisada: “Tudo está no seu lugar/ Graças a Deus, graças a Deus/ Surramos mais uma vez essa oposição...”. Mas ontem o canto morreu na garganta.
A nomeação de Marun, articulada de manhã e anunciada informalmente à imprensa no início da tarde foi suspensa logo após conversas separadas de Temer com Aécio Neves e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, favorável à permanência de Imbassahy. Certamente foi alertado que a nomeação poderia atrapalhar a negociação da reforma da Previdência. Em anúncio oficial, restou ao Planalto esclarecer que não está resolvido: “As conversas sobre Marun continuam”.
O folclórico deputado ficou no limbo, junto com a tropa de choque do PMDB construída à imagem e semelhança do ex-deputado e hoje presidiário Eduardo Cunha, de quem Marun é fiel escudeiro. A ponto de visitá-lo na cadeia de Curitiba na véspera do Natal. Todo mundo sabe que esse pessoal não fica calado muito tempo e vai voltar à pressão pró-Marun.
De certa forma, nesse estágio final do governo Temer, nada estaria tão em seu lugar quanto a nomeação de Marun para a Articulação Política. Se ainda ocorrer, haverá comemoração numa certa cela lá em Curitiba. Afinal, Marun é Cunha lá. Ao mesmo tempo, aproxima e gruda Michel Temer em sua turma do PMDB, aquela que ele às vezes gostava de manter à distância na hora das fotos.
A indicação do deputado, ou de qualquer outro colega da bancada de perfil semelhante, representará sobretudo a peemedebização total e final do governo. Acaba o governo formado pelas forças que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff, tendo o PSDB como fiador junto ao PIB e ao mercado, e nasce outro, no qual o PMDB dividirá o butim com o Centrão, sob as bênçãos de novos fiadores – como Rodrigo Maia, por exemplo.
Sabemos todos que os tucanos estão longe de ser santos, e fazem por trás do biombo tudo aquilo que os peemedebistas e outros não têm vergonha de escancarar. Mas a saída do PSDB da Esplanada – a se concretizar a demissão de Imbassahy, ainda que o chanceler Aloysio Nunes permaneça na cota presidencial – tem simbolismo.
Não seria exatamente a sinalização de que o governo ficará mais fisiológico, pois o toma-lá-dá-cá alcançou seus níveis máximos já há tempos. Nem mais bandido, pois o PSDB sai levando seu fardo de acusações, denúncias e processos. Mas perde-se uma espécie de verniz, o discurso reformista histórico e a lábia dos tucanos, que ajudam na hora das reformas.
A aliança PMDB-Centrão que se consolida pode dar para o gasto, que é a sobrevivência de Temer até 31 de dezembro de 2018. Mas dificilmente alcançará o consenso político necessário para reformas como a da Previdência. Muito menos com o perfil truculento de Marun, um adepto do bateu-levou na relação com deputados.
Com Marun ou sem Marun, tudo indica que o que nos resta no Congresso, daqui para frente, serão cenas cada vez mais explícitas de chantagem, fisiologismo, falta de compostura. No Planalto, trapalhadas como a de ontem, com nomeações e “desnomeações” de ministros ao sabor das pressões do momento.
PS- Benito, não se preocupe: por aqui, nada está em seu lugar.