Depois de um longo período de ostracismo, o deputado federal, conhecido popularmente por Tiririca, fez na semana passada o seu primeiro e último discurso com os recursos que possui, é claro, comunicando que vai deixar a política.
Porém, o que chamou a atenção mesmo foi o teor do pronunciamento, ao relatar o que viu em Brasília nos últimos anos. Tiririca teve a oportunidade sonhada por muitos brasileiros de falarem o que pensam sobre os desmandos cometidos pelos políticos do país.
Seu discurso foi uma espécie de desabafo, à vista da forma com a qual é conduzida a política, mormente no que tange à falta de ação positiva em prol das causas justas de que tanto clamam os brasileiros, diante dos episódios que já ocorreram na Casa de Leis do Palácio do Planalto, entre os ocupantes de cadeiras no Congresso Nacional.
É o mínimo que se espera de cada parlamentar, que é o comparecimento às sessões como um ato de cumprimento às suas obrigações, já que os eleitores os elegeram para o desempenho de algum papel que represente a sua presença aos trabalhos legislativos.
Entre outras observações, Tiririca lembrou que “ganhamos bem para trabalhar, mas nem todos trabalham”. O deputado se referiu ao fato de que recebe cada parlamentar 23 mil reais por mês, um valor acima do salário pago aos trabalhadores, além de muitos benefícios como apartamentos, veículos e tantas outras regalias.
Dando sequência à sua fala, por sinal histórica, o deputado lembrou que apenas oito parlamentares em meio a mais de 500 são realmente assíduos nas atividades que cabem o exercício da função a ser exercida.
A situação é tão crítica, que apenas o fato de comparecerem às sessões, já qualifica um deputado? Sim, porque vai muito além, pois são homens e mulheres eleitos para legislar e fiscalizar o executivo. Se deixam de comparecer ao Congresso, fica difícil falar em atividade parlamentar.
Nos bastidores, o cálculo é de que cada deputado custa ao longo de um mandato de quatro anos cerca de R$ 1,8 milhão aos cofres públicos, ou seja, dinheiro pago pelos eleitores e pelas pessoas físicas e jurídicas de todo o Brasil.
Um investimento nesse valor precisa de retorno em forma de trabalho e empenho, para que o país atinja o mínimo de melhoria que se fizer necessária, visando, com este objetivo, dar uma satisfação plausível aos eleitores que, a cada dia que passa, ficam mais descrentes da política e dos políticos.
É claro que não devemos generalizar e o próprio Tiririca falou a respeito disso em seu polêmico discurso, ao comentar as dificuldades enfrentadas pelos políticos bem-intencionados, aqueles que estão inclinados a trabalhar em prol do desenvolvimento do Brasil.
Não dá para fazer muita coisa, porque a mecânica daqui é bem louca, disse Tiririca, sem possibilidade de algo que venha a atrair a atenção dos que estão atentos à mídia e aos acontecimentos parlamentares.
Muitos criticaram o discurso de Tiririca, eleito por mais de um milhão de votos, alegando que o próprio estaria fazendo da Câmara um palco, somente para se projetar, em nada contribuindo para a discussão sobre o que realmente o país espera de seus parlamentares, mas para a maioria foi oportuno o pronunciamento, de tal forma que silenciou os presentes, enquanto o deputado discursava.
Finalizando, disse Tiririca: “do que vi nesses sete anos aqui saio de uma forma frustrada” e, assim sendo, este pronunciamento serve de alerta aos eleitores brasileiros na hora de comparecerem às urnas eletrônicas para o cumprimento do voto.