Escrevo de Buenos Aires, Argentina.
A mim, tem-me parecido um país entristecido.
Os ricos vão muito bem, obrigado. Te tratam bem, são até simpáticos. Educados.
Da classe média pra baixo, me parecem todos muito cansados.
Os mais velhos trazem um semblante resignado.
Os mais novos, bem, parece que têm muita pressa; mas não estou certa se sabem exatamente para onde vão.
Buenos Aires é uma São Paulo menos impiedosa.
O ritmo é mais lento, seguro; mas o peso de carregar uma história de tantos e tantos e tantos erros, à esquerda e à direita - ninguém escapa -, parece maior.
Transparece nos semblantes que sabem que cometeram muitos erros, são muito politizados, lêem muito, mas parece que cuidar, fiscalizar o Estado - a origem de todos os problemas latinos, todos - é tarefa dos outros.
Assim como no Brasil, parece que não se deram conta, ainda, de que se não fiscalizarmos muito, se não estivermos muito atentos, toda a riqueza que produzimos e que herdamos - somos dois países ricos, muy ricos, e de grande potencial -, se não for desviada para bancos suíços, portugueses e até chineses, será concentrada nas mãos de alguns poucos - muito poucos.
Na maior tranquilidade, e cara de pau incríveis.
Pobre América Latina!
É como dizem: nos dias que correm, gentileza gera gente querendo fazer você de trouxa.
Talvez tenha sido este o início do desfiladeiro de erros latinos: povos solícitos, gentis, crédulos, ingênuos, deixaram-se levar, por algumas dúzias, talvez, de crápulas espertalhões.
E eis o buraco latino em que nos metemos: gente pobre, sem futuro, por todos os lados.
Uma massa de despossuídos que invadem os bairros mais ricos e esfregam sua condição na cara dos abastados; que de sua vez parece não perceberem que afastá-los de seus bairros não fará com que desapareçam.
Que não teremos paz, enquanto não resgatarmos tantos marginalizados.
E que a única forma honesta possível é pela educação. De qualidade, isenta, sem partidarismos. Sem ideologias - essas bobagens todas, do século passado.
E que não é dando que se recebe, não.
É cobrando.
De cada um, a sua parte.