O maestro Tom Tavares, professor da referencial Escola de Música da Universidade Federal da Bahia - que assina com o poeta e consagrado compositor José Carlos Capinan, a Sinfonia do Descobrimento - destacou esta semana, em seu endereço no Facebook (diferenciado espaço de informação política e debate cultural nas redes sociais), um dado e um sentimento que parecem ganhar corpo e ressonância nacional, à medida em que 2017 chega ao fim e 2018 anuncia sua chegada, com um bumbo que promete ensurdecedor barulho e consequências ainda impossíveis de prever: a corrida da sucessão presidencial que já anuncia os seus sinais.
“Mais de 70% dos brasileiros não querem nem Lula nem Bolsonaro na presidência. Faço parte deste percentual”, afirma em sua postagem o maestro erudito que, ultimamente, tem alimentado, também, plural e polêmico debate sobre temas políticos e sociais que deverão dominar os debates mais candente da campanha do ano que vem: O nocaute, via eleitoral e democrática, da corrupção endêmica que corrói o Brasil, e o desmantelamento da aparelhagem política e ideológica que, ao longo dos últimos 14 anos, domina as universidades brasileiras, principalmente as públicas.
Por enquanto, o que se ouve e o que se vê é mais do mesmo. Além da barulheira infernal, queimações por todo o lado e o feroz destilar de mágoas, invejas e ódios acumulados (ideológicos, pessoais, profissionais, de sexos e do diabo a quatro, de um tempo temerário em que irmão desconhece irmão). Mesmo algumas vozes do coro de antigos discursos recauchutados, mas que vendem ao ouvinte – principalmente de classe média - algum viço de juventude e vitalidade, uma certa dissonância dos trinados e ruídos triviais, fora da mesmice da pauta geral e enfadonha - na base do discurso inspirado no italiano Lampeduza, no romance “O Leopardo”, de mudar alguma coisa para que tudo siga como está.
Refiro-me, evidentemente, ao voluntarioso e impaciente prefeito da cidade de São Paulo, João Dória Junior (PSDB), cujo navio chocou-se mais de uma vez com o iceberg do governador paulista, do alto comissariado tucano, Geraldo Alckmin, mas que começou a fazer água há um bom tempo. E ao intrépido apresentador da Rede Globo, Luciano Huck, nome avulso e sem filiação partidária, que ganhou força nas pesquisas e na boca da massa, mas que, tão de repente quanto a boa acolhida e ascensão na arrancada, desvaneceu-se no ar, com o anúncio de desistência feito há poucos dias, pelo próprio celebrado homem de TV.
Não falta quem diga que desse mato não espirra coelho, mas é cedo para afirmações definitivas. Melhor esperar um pouco (pelo menos até a convenção nacional dos tucanos, neste sábado, ou a votação (ou não) do desidratado projeto das mudanças na Previdência, e conferir. Ainda há pouco, nesta sexta-feira, o ministro e importante articulador político do Palácio do Planalto, entregou sua carta de demissão. O tucano baiano se afasta do núcleo do poder, cansado de tomar rasteira e ser atropelado pelas costas.
Mas, se da parte dos tucanos ainda há muitos vai lá e vem cá, para não perder o costume, na Rede, de Marina Silva, há definições. Terceira colocada nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, a ambientalista e ex-ministra do Governo Lula anunciou, sábado passado, que pretende concorrer à presidência da República pela terceira vez. E uma de suas justificativas para a decisão (depois de negar por muito tempo), é que pretende evitar, “uma polarização e a radicalização do discurso do ódio na eleição de 2018”. Ao traçar rumos, no discurso de anúncio de sua pré-candidatura, Marina criticou, mesmo de maneira velada, como assinalou o El Pais, “seus dois principais adversários até o momento, Luiz Inácio Lula da Silva e o direitista Jair Bolsonaro”, a dupla do dilema posto no começo deste artigo.
Marina dedicou, também, um pouco da sua fala à defesa do combate à corrupção. E sugeriu a necessidade de se iniciar, na sociedade, uma operação “Lava Voto”, que consistiria no eleitor dar, nas urnas, uma resposta aos partidos que se viram envolvidos em esquemas descobertos pela Lava Jato: PT, PMDB, PSDB e DEM, apontou. “O melhor que a sociedade pode dar para aos partidos que criaram esta crise é dar para eles um sabático de quatro anos, para que eles possam rever os seus estatutos”, afirmou. É pouco para punir, devidamente, corruptos e corruptores que saquearam o País. Mas é uma ideia, e não existem muitas na praça ultimamente.
Ah, antes do ponto final, diga-se que o esquentado ex-ministro Ciro Gomes, do PDT, também anda por aí em pré-campanha. Mesmo assim, a sensação é de insuficiência, vácuo e pobreza na oferta de nomes para 2018. E permanece no ar a questão do começo destas linhas: OK, nem Lula nem Bolsonaro. Mas quem? Responda quem souber.