Conheço pessoas que não conseguem mais digitar o que quer que seja sem errar inúmeras vezes as teclas: do telefone, do computador, do interfone.
A comunicação, também, vai se mostrando truncada: erros de palavras e de interpretação são uma constante.
É que estamos atropelando.
Nos atropelando, atropelando a vida.
Correndo o tempo todo, atrás de tantos e tantos compromissos, que vão criando tantos e tantos dramas pessoais concretos ou imaginados - na imensa maioria das vezes, imaginados -, não vivemos mais.
Nem pela metade.
São tantos erros o tempo todo, originados da loucura pela vida confortável.
Ninguém tem um minuto de sossego - ou de conforto -, porque todos buscam, loucamente, ter um minuto de conforto - ou de sossego.
Não há mais tempo para viver.
Entra, ainda, na equação dos trópicos, a ineficiência, a ignorância, atávicas.
Somadas agora, à pressa, ao desespero, para ostentar.
Basicamente tudo, em toda e qualquer relação, de negócios, sociais, familiares, neste contexto de alucinação coletiva, tem imensa potencialidade para dar errado. E aqui, nestas paragens, o inconsciente coletivo já espera pelos erros.
Então, todos ansiosos.
Esperando pelos erros e pelos prejuízos. Que virão.
Correndo, loucamente, e ansiosos.
Às vezes, me pergunto se não estamos correndo é da vida.
Da difícil e artesanal arte de viver.
Relacionar-se com o outro de forma inteligente, passando, no mais das vezes, por cima de orgulho ou interesses imediatos.
A difícil arte de exercitar a inteligência.
Analisar e saber esperar.
É imensamente mais fácil, não se discute, entrar no torvelinho, e se deixar levar pelos esquemas já armados, pelos padrões estabelecidos - mesmo que sejam da mais alucinada e burra das realidades.
Construir um espaço de sossego, conforto, interior; encontrar tempo para se repensar, repensar o mundo. Ninguém se atreve.
Conhecer verdadeiramente o mundo; os sistemas que estão por trás da realidade que é criada para nós a cada dia.
A meia dúzia que governa o mundo e impõe a você, a maneira como você vai vestir-se, comer, amar e pensar.
Vai ver é este o medo que permeia, inconscientemente, os nossos coletivos.
Nos descobrirmos absolutamente dispensáveis dentro do sistema.
Sem sequer termos tido tempo de pensar em uma alternativa.