A agência de classificação de risco norte-americana Standard & Poor’s (S&P) foi citada com frequência no noticiário brasileiro nessa última semana. O motivo foi a divulgação do rebaixamento do grau de investimento do Brasil de “BB” para “BB-”.
De um lado, a notícia foi objeto de muitas conversas e desconfianças em relação ao governo brasileiro. De outro, a bolsa de valores e a moeda brasileira não oscilaram para além do normal.
Isso é, no mínimo, curioso: a divulgação de uma agência de risco de investimento reverberou mais nos corredores de Brasília do que nas linhas de trading da bolsa de valores de São Paulo. Parece que a nova nota é impactante à eleição presidencial de 2018 e irrelevante ao mercado de investimentos e valores mobiliários.
Por mais notável que este fenômeno seja, sua explicação é bastante conhecida pelos investidores – principalmente dentre os que vivenciaram os acontecimentos da crise financeira de 2008.
Hoje sabemos que, no início daquele ano, as principais agencias de riscos já sabiam que os títulos imobiliários norte-americanos sofreriam de grande inadimplência. Mesmo assim, elas demoraram meses preciosos para alterar a nota de confiabilidade desses papéis, mascarando o grau de risco desses investimentos e dando tempo para os bancos mitigarem seus prejuízos – às custas, é claro, de milhares de investidores enganados.
A própria S&P, em um acordo feito com o Tesouro Americano, concordou em pagar uma multa de quase US$1,4 bilhão para encerrar um processo judicial que apurava a responsabilidade da agência no agravamento da crise financeira. Outras agências de risco seguiram caminho parecido.
O ano de 2008 deixou suas marcas. O investidor atual parou de confiar cegamente nas notas de risco de agências como a S&P. Ele sabe que as agências têm seus próprios interesses e que as informações divulgadas por ela não podem ser tomadas como verdade absoluta sobre determinado país ou investimento.
Se o investidor de valores mobiliários já aprendeu a lição, não se pode dizer o mesmo da população em geral. A maioria das pessoas ainda não sabe muito bem o papel desenvolvido atualmente pelas agências de avaliação de risco na distribuição de investimentos.
A assimetria informacional deu novo folego às agências. Com a perda do prestígio junto ao seu público-alvo, elas obtiveram na opinião pública um ótimo substituto. Em termos mais diretos, elas encontraram, na desinformação generalizada, uma nova maneira de continuar lucrando se manter em evidência.
A mudança deste paradigma ocorrerá com o gradual aumento de racionalidade do indivíduo na tomada decisões políticas. Para avaliar um governo, devemos nos recorrer às questões do cotidiano. Precisamos nos perguntar se aquele problema na calçada foi resolvido, se temos mais vagas nas universidades públicas ou se ainda conseguimos fazer as compras do mês no supermercado com o nosso salário. Essas perguntas esclarecem muito mais sobre a eficiência de uma administração pública do que uma sequência de letras e símbolos aritméticos.