Entre um aguaceiro tropical e outro; entre uma nevasca e outra, vez em quando, o mundo testemunha, aqui e acolá, o surgimento de massas de revoltosos unindo-se contra o sistema.
Estavam até outro dia ocupando wall street.
Mas, expropriados, descamisados, desvalidos em geral, amotinavam-se mais amiúde até o século passado, quando ungiam líderes próximos às suas agonias: a agonia dos que são explorados; a agonia do gado. Lutavam pelo pão, muito magrinhos.
Hoje, exceção feita a descalabros inconcebíveis vividos em países paupérrimos, sobra pão no mundo. Todos muito gordos e sem muita disposição para revoltas muito intensas, ou muito longas.
As ideologias acabaram no exato momento em que começou a sobrar comida.
Pois é.
Velhos líderes dos pobres perderam a razão de ser.
Terão, inarredavelmente - os que ainda insistem -, de mudar o discurso, reivindicando outra coisa além de comida e terra pra plantar a comida. E os seus respectivos staffs, também.
É definitivamente o fim da era da inocência: da inocência dos que seguiam cegamente a marcha contra o sistema de exploração globalmente estabelecido; da inocência, dos líderes que verdadeiramente acreditavam na vitória do proletariado, e mesmo a inocência dos líderes mais espertos, que enquanto amestravam o proletariado, sentavam-se à mesa do capital para abocanhar o seu quinhão - e isto porque, quando uma etapa da vida mundana se esgota, quando um tempo histórico fenece, todos ficam mesmo com caras de bobos.
Cadê a realidade que estava aqui, ainda agorinha?
São realmente pouquíssimos os que anteveem as mudanças e conseguem a elas se adaptar a tempo de não passarem vergonha com discursos cheios de nódoas do tempo que já se foi.
O mundo de maneira geral, e mesmo a Banânia, em particular, já percebeu que a vida é jogo e joga melhor quem se preparar melhor; quem atenta para as oportunidades e trabalha sobre elas.
Dificuldades, uns têm mais, outros menos, mas a vida está aí, foi dada de graça, é toda sua, e você pode fazer, produzir, a partir dela, o que bem entender, basta usar a cabeça - esta a liberdade e a verdade do século XXI: você pode.
Alimentados e gorditos, humanos hoje sabem que podem fazer a diferença - todos e qualquer um, em qualquer lugar, a qualquer instante.
E que o sistema - criado e mantido e permitido por nós mesmos - segue e seguirá ainda por longuíssimos séculos, sendo bruto. Muito bruto - como é próprio da natureza humana.
E quem fica parado é atropelado mesmo.
Por veículos - de quaisquer espécies -; pela história.