Não poderia haver evento mais útil aos propósitos do PT do que o julgamento do recurso de defesa de Lula pelo TRF-4, que manteve a condenação por 3 a 0 e elevou a pena para doze anos e um mês na última quarta-feira. O partido carecia de um grande motivo para reanimar a militância, nos últimos dois anos afogada na borrasca provocada pela Operação Lava Jato.
Lula se compara a Tiradentes ou Mandela, sem rubor na face, para assim embalar o partido, temeroso da própria existência por ocasião do mensalão. Lula era e continua a ser o elo que une as alas do partido, pelo carisma e por ser o principal puxador de votos do país.
Apesar da punição severa, ele seguirá na trilha da candidatura, vestindo o manto de vítima das elites, agora engrossadas pela elite de toga do Judiciário. Só assim o PT ganha um Cristo caminhando ao Calvário.
A campanha se desenvolverá sob um clima de alta tensão, fomentada por contingentes barulhentos, entre os quais os exércitos da CUT e do MST, este último com disposição de fechar rodovias e invadir propriedades, na esteira de recomendações de quadros petistas, com destaque para a presidente do partido, Gleisi Hofmann, e o senador Lindberg Farias, incitando a militância a pegar em armas contra os inimigos e a tomada do poder pela violência.
Consiga ou não virar candidato até 17 de setembro, data limite para a garantia de presença nas urnas, Lula preencherá a planilha de necessidades que o PT planejou: reacender as fogueiras do petismo, puxar um cordão de candidatos proporcionais nos Estados e, quem sabe, até voltar a eleger governadores.
Sem Lula como candidato, a tão esperada polarização entre ele e Bolsonaro, pela extrema-direita, perde força, sendo provável o impulso a ser dado ao candidato do centro, principalmente se o governador de São Paulo Geraldo Alckmin canalizar as forças encasteladas nas áreas de centro-direita e centro-esquerda. Alckmin teria de ganhar uma boa avaliação em São Paulo, que detém mais de 33 milhões de eleitores, o maior eleitorado do país. E ainda sentar praça no Nordeste, onde é pouco conhecido.
Esse cenário não abrigaria, portanto, outras candidaturas centrais, como a de Henrique Meirelles ou a de Rodrigo Maia, situação que produziria dispersão de votos. Maia é um bom articulador político e Meirelles poderia canalizar os feitos na economia, mas sua figura não empolga. Álvaro Dias, que habita também o centro, não teria votos suficientes para se tornar o principal protagonista do terreno. Nessa condição, poderia estar Luciano Huck, caso induzido a entrar na arena. Sabe-se que esconde uma carta nas mangas, a soltar lá pelos meados do semestre.
De qualquer maneira, voltando ao PT, é possível concluir que não será desta vez que o partido PT será batido fragorosamente. Lula, mesmo não sendo candidato, será o responsável pela sobrevida do petismo. Se vier a ganhar os recursos jurídicos, o clima de polarização reacenderá a fogueira entre “nós” e “eles”. Ainda assim, a vitória do PT seria a alternativa menos provável.