Vivemos dias confusos e incertos. Tropeçamos nos disparates que se opõem a cada passo que damos em busca de um mundo melhor. E isto tem se agravado, começando nos povos que se nomeiam como ‘primeiro mundo’, tão ilógicos, tão impassíveis diante da agonia de nações inteiras. Não me refiro à insatisfação intelectual destas, mas à fome, à inanição, doenças extintas que ressurgem da miséria... Não se sente mais a compaixão seguida do amor caritativo. A misericórdia deixa de emanar aos que são subalternos, tanto cultural como economicamente. Parece até que Jesus pediu para que agíssemos no bem só até no ano 2.000, pois, embora os terríveis sofrimentos por que passaram até completar o século 20, com os piores governos que se possa imaginar, com as guerras civis e santas, as religiões, apesar dos desmandos e sofrimentos infligidos à humanidade, subsistiam e exerciam algum freio na fúria destruidora do materialismo ocultado pela hipocrisia e que agora se vangloria por estar no domínio daquelas poderosas nações.
‘Uma vida sem religião é como um barco sem leme’. Se é certo o que Mahatma Gandhi afirmou, e nós aceitamos como verdade, parte da humanidade que se julga superior às demais navega neste barco, causando sérios transtornos às populações menos importantes e carentes.
As crenças calcadas na esperança do amor e da justiça divinas estão sendo banidas nos povos mais intelectualizados, porém, moralmente menos civilizados. Tomaram seus lugares o egoísmo brutal, a ambição feroz e o imediatismo das sensações fugazes. Por confessarem-se materialistas sentem-se no pedestal da superioridade. Estaremos exagerando?
E o barbarismo das religiões radicais? Questionam. Não continuam elas contribuindo também para que se agrave esse estado caótico do comportamento hedonista dos poderosos que imperam neste século?
Na generalidade, não sabemos o quanto de suas implicações no estado atual da política mundial. Não convém tomar parcelas pelo todo. As promessas que oferecem para os que sacrificam a vida não deixam de ser uma das formas de dar esperanças...
O que se tem de comprovação no estado social em que nos encontramos, é de que sem esperança não se alcança a paz e muito menos a satisfação de viver. E a esperança que conforta e acalma, só as religiões conseguem oferecer. Se estas forem banidas, restarão apenas as alegrias momentâneas, seguidas do buraco negro do niilismo, alcançável com mais presteza pelo suicídio. Se se deseja uma prova do que afirmamos, lembramos que as religiões, impulsionadas pela esperança, ajudaram a dar fim no comunismo russo, ocultas por mais de setenta anos — o tempo que durou a União Soviética — não se deixando dominar pelo marxismo materialista que acabou desmantelado, apesar de tantas conquistas materiais. Este é o fato histórico acontecido ao encerrar-se o segundo milênio, com muitos contemporâneos para testemunhá-lo.
Deixemos de lado os problemas políticos, as dificuldades do tradicionalismo das religiões e voltemo-nos agora à filosofia que nos induz à religiosidade e que se baseia em fatos cientificamente comprovados: o Espiritismo.
Não tem ele suas raízes nas mesmas superstições que deram origem às religiões ultrapassadas? Poderão indagar. Não segue o Espiritismo as mesmas tradições fantasiosas e lendárias dos livros sagrados?
Não é verdade. O Espiritismo se originou de fatos ocasionados por faculdade humana — a mediunidade — que revela vida fora da matéria, isto é, a existência de seres que foram homens e mulheres e que continuam existindo em outra dimensão. Estes fatos sempre existiram porque a faculdade da mediunidade manifesta-se no ser humano desde que ele adquiriu consciência. O Espiritismo não tem raiz em nenhuma religião, embora os fenômenos espíritas tivessem dado origem a todas elas.
Mas, o Espiritismo não se mostra como uma seita cristã? Afirmamos que a filosofia espírita adotou a moral cristã como conduta de vida, mas nada tem a ver com os dogmas do cristianismo, criados pela teologia sectária, séculos após a crucificação de Jesus, e muito menos pelos rituais pagãos enxertados em suas práticas. Para os espíritas, Jesus é o Mestre por excelência, o paradigma a ser atingindo pelo espírito em sua evolução rumo à perfeição, destino de todos os seres pensantes, ora na matéria, ora fora dela. Se o Espiritismo nos mostra os efeitos negativos da má escolha pelo livre arbítrio, faculdade esta conquistada através de inúmeras experiências na matéria, a esperança na felicidade se enraíza no espírito garantindo-lhe equilíbrio mental para superar as mazelas da vida biológica, e a obrigatória colheita de suas ações, tanto as boas, quanto as más.
Caro amigo, se as religiões tradicionais, englobando as radicais, não lhe atraem, como também nunca me atraíram, desde que me conheci como gente, em plena infância, fazendo-me sentir culpado por não aceitar a que me foi imposta, embora hoje a respeite pelo seu humanismo e capacidade de produzir homens bons, procure conhecer a filosofia espírita sem os preconceitos que a ignorância e a má fé dos radicalistas que procuram incutir em seus possíveis adeptos, ameaçando-os com o seu vingativo Deus, no desenfreado proselitismo a que se entregam.
Tenha em mente que as religiões evoluem. Antes, o Deus bíblico, antropomórfico, mostrando as faces do bem e do mal, com arrependimentos e promessas de vingança. Depois, com Jesus, o Pai amoroso e misericordioso, prometendo reunir todos seus filhos na eterna felicidade. É a este Deus que os espíritas crêem e sabem que existe pela razão e pela lógica, permitindo que sua religiosidade aflore em suas emoções e atos. É algo diferente de um irracional inferno eterno e de um hipotético juízo universal, ultrapassados pelas revelações do mundo espiritual, pois tais coisas, ao lado de dogmas absurdos, foram criados por homens no intuito de dominar o próximo. Vivemos tempos mais arejados, iluminados pela razão calcada na esperança de dias melhores oferecidos pelo Espiritismo.