Newton de Oliveira é professor de Direito da Faculdade Mackenzie Rio. É ex-subsecretário geral de Segurança.
As cenas da Guerra do Rio não trazem, desafortunadamente, novos episódios de profunda tristeza. Nas últimas 72 horas, três crianças perderam a vida, vítimas do ambiente homicida que assola a cidade.
Fruto de uma política equivocada de segurança pública, que não consegue minimamente atingir resultados que justifiquem a manutenção, as estratégias de guerra às drogas, que têm como corolário uma guerra aos pobres nas comunidades, vêm deixando um superávit de mortes de centenas de civis, perda irreparável de mais de uma centena de policiais, custo econômico quase que incalculável e resultados absolutamente deficitários.
Como ponta mais sensível desse iceberg de morte e dor, há a perda não compensada de um quinto do ano letivo nas escolas públicas, diminuindo ainda mais as possibilidades e os instrumentos de superação, via educação e cultura, do atual status quo.
Não podem os gestores de topo da segurança no Rio alegar desconhecimento, pois até um extraterrestre que viesse à cidade, em pouco tempo perceberia a ineficácia, incompetência repetida de uma política que dá errado e é reiterada.
E para piorar o quadro, essa lógica começa a impregnar de forma forte as Forças Armadas. Vide o exemplo da notícia do quartel da Marinha sitiado pelo narcotráfico na Avenida Brasil.
Diz o Direito Penal que ações culposas sapientes são ações dolosas. Não vemos outra análise na insistência da manutenção das atuais práticas policias.
E assim crianças - futuro de qualquer país - são sacrificadas em vão aumentando o calvário e o Vale de lágrimas em que se transformou o Rio e que se alastra pelo Brasil.
Ficamos as vésperas do Carnaval como dizem os versos da Beija Flor, em 2018: “à procura de uma luz, a salvação...onde a esperança sucumbiu...vejo a liberdade aprisionada, teu livro eu não sei ler Brasil!...mais um menino que você abandonou...”