Quando iniciei minha gestão à frente da Secretaria da Cultura do Estado, a convite do governador Geraldo Alckmin, constatei a importância simbólica e estratégica do prédio que abriga a pasta. O Complexo Júlio Prestes inclui a Secretaria e a Sala São Paulo, um dos dez melhores espaços de concerto do mundo e sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp. Além da beleza do prédio, sua importância é histórica: concluído em 1938, abrigou a antiga Estrada de Ferro Sorocabana, que teve importância fundamental para a economia paulista.
São essas qualidades, aliadas ao fato de estar localizado em uma parte fundamental do Centro da capital paulista, que me levam a considerar o prédio como estratégico, buscando um sentido humanista para a palavra. Ter no bairro da Luz a sede da Secretaria da Cultura do Estado, uma instituição com a função nobre de fomentar ações e políticas públicas no setor para todos os paulistas, nos faz enxergar nesta região algo além do local degradado, inseguro e relacionado ao consumo do crack. Nego-me a ver o bairro da Luz somente desta perspectiva. Este é um problema real das instâncias da saúde e da segurança pública, porém não podemos reduzir o bairro a esta imagem.
O espaço Estação Cultura nasceu em outubro de 2017 a partir deste pensamento e de uma constatação: a porta principal da Secretaria, no número 51 da rua Mauá, estava fechada havia anos, servindo absurdamente como um depósito de caixas de arquivo, e o público tinha acesso ao prédio somente por uma entrada lateral. O passo seguinte foi uma consequência: a entrada da Secretaria foi reativada e renasceu transformada em um espaço cultural com as portas abertas para o bairro da Luz.
Espaço múltiplo, o Estação Cultura já ofereceu exposições de fotografia e artes plásticas; um concerto ao ar livre de piano; uma intervenção de graffiti com a participação de pessoas que realizam tratamento para dependência química na instituição Recomeço; além de um hackaton – uma maratona de programação digital em que jovens desenvolveram soluções tecnológicas em prol da cultura paulista. Hoje, quem passa em frente à Secretaria de Estado da Cultura vê suas portas abertas e, ao entrar, se depara com alguma programação cultural gratuita e de qualidade. Era o que todos queríamos quando o Estação Cultura foi planejado e isso está sendo concretizado. Suas portas estão abertas para os moradores e trabalhadores da região.
O bairro da Luz enfrenta um gravíssimo problema social, é verdade. Mas não podemos ter medo. Ao contrário, devemos buscar possibilidades de atuar nessa realidade para torná-la melhor, pensando sempre nas pessoas. Oferecer cultura em um prédio belo e, sobretudo, público, tratando seus visitantes com respeito e dignidade, é um poderoso caminho. Acreditamos nisso.