Fernando Valente Pimentel é presidente da Associação Brasileira
da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
Embora a recessão mais grave de nossa história esteja tecnicamente debelada pelo pequeno aumento do PIB em 2017, o Brasil, deverá crescer em torno de 3% em 2018, abaixo, por exemplo, do Peru (3,5%), Panamá (5,5%) e República Dominicana (5,6%), segundo estimativa da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) para estes três últimos países. Não se pode atribuir nosso baixo desempenho apenas à presente crise da qual estamos emergindo, pois nos últimos 20 anos evoluímos à média anual de apenas 2,5%, muito aquém do verificado nos principais emergentes, que cresceram mais do dobro de nosso percentual.
Mais grave é o fato de o crescimento potencial do nosso PIB estar igual, segundo cálculos de economistas renomados, ao dos Estados Unidos. Isto significa que, mantida a atual tendência, jamais conseguiremos dar um padrão de vida aos nossos cidadãos igual aos dos habitantes daquele país. É perturbador constatar que, no início dos anos 70 do Século XX, estávamos num patamar de desenvolvimento bem superior ao da Coreia do Sul, que tem agora renda per capita mais de duas vezes maior do que a nossa. Com investimentos fortes em educação e boas políticas macroeconômicas, essa nação asiática mostrou que o capital intelectual é capaz de superar a escassez de recursos naturais.
Fica muito claro o efeito corrosivo de sistemáticas políticas públicas equivocadas sobre a performance de nossa economia. É espantoso que, depois de ser um dos países que mais cresceram nos primeiros três quartos do Século XX, tenhamos estagnado a partir dos anos 80, a despeito de alguns picos isolados de expansão do PIB, intercalados com anos de queda. Desde então, jamais tivemos uma política coesa de desenvolvimento. Vimos nos movendo a reboque das conjunturas globais e de políticas econômicas descontinuadas, ao léu dos caprichos, interesses e tendências ideológicas dos sucessivos ocupantes do Poder Executivo e legislaturas.
Deixamos de acompanhar o ritmo de transformações do mundo, mantivemos, a despeito de avanços recentes na área trabalhista, arcabouço legal anacrônico (tributário/fiscal, previdenciário, burocrático etc.), oneramos os custos da produção, com a consequente diminuição da capacidade de agregação de valor aos nossos produtos e serviços, e passamos a ser um ponto cada vez menor no retrovisor das nações em desenvolvimento e emergentes que souberam promover sua ascensão socioeconômica. Negligenciamos a educação, precarizamos a saúde, fomos lenientes com a criminalidade, substituímos investimentos públicos em infraestrutura e habitação por gastos não prioritários... estamos comendo poeira!
As consequências mais graves de todos esses erros manifestam-se de modo perverso no social. Estudo que acaba de ser divulgado, do Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea), publicado sob a chancela do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (IPC-IG/PNUD), mostra que o Brasil é um dos cinco países com mais desigualdades. O trabalho analisou 29 nações desenvolvidas e em desenvolvimento.
Fomos ultrapassados por economias com potencial muito menor do que o nosso, considerando as dimensões de nosso território, clima, disponibilidade de terras agricultáveis, reserva hídrica, biodiversidade, petróleo e riquezas minerais, capacidade industrial instalada e um grande mercado consumidor. Assim, é premente que os candidatos às eleições deste ano tenham o firme compromisso de mudar a história, apresentando um projeto exequível e sustentável de crescimento econômico, modernização e desenvolvimento com geração de empregos de qualidade. Precisamos ter a ambição de crescer cerca de 5% ao ano para capitalizar todas as potencialidades nacionais. Fato condicional para atingir esse nível de expansão é ampliar nossa taxa de investimentos para 23% do PIB. Para que isto ocorra, é mister seguirmos com as reformas estruturais coerentes com a economia digital e nos livrarmos das amarras que nos prendem a um passado analógico, anacrônico e burocrático.
Não podemos mais aceitar a semiestagnação das últimas quatro décadas, que afeta gravemente a vida de nossos 206 milhões de habitantes, depois de termos experimentado os benefícios do crescimento durante quase todo o Século XX. Por isso, os brasileiros repetem aos políticos a pergunta popularizada no grande sucesso musical de Moraes Moreira: “Por que parou, parou por quê?” Somos um povo ansioso à espera de respostas concretas e sabemos corresponder quando as oportunidades abrem-se a partir de uma visão moderna e harmônica de país, que deixe de lado discussões ideológicas estéreis que já não encontram abrigo nas nações que mais se destacam na promoção do desenvolvimento inclusivo.