A morte é inevitável. Viver, já diziam vários filósofos, é preparar-se para morrer. Ela é a mais democrática e certa das ocorrências para todos os vivos. O homem é o animal que sabe que vai morrer, daí a sua corrida louca em busca de iludir-se. Mas ela chega, mais dia menos dia.
Isso não quer dizer que se deva encarar com naturalidade a morte desnecessária de tantos jovens por causa do trânsito. Os acidentes por ele causados geram a morte de crianças e jovens e no doloroso ranking das perdas vitais, ele é o segundo. A cada 57 segundos ocorre um acidente de trânsito, a cada 7 minutos alguém é atropelado, a cada 22 minutos uma pessoa morre. Além disso, a cada ano, 350 mil pessoas ficam mutiladas.
Por que tudo isso?
Falha humana. A educação nunca foi uma preocupação consistente para grande parte da humanidade. Quem não tem educação na vida, muito menos terá educação consistente no trânsito. A irresponsabilidade é a regra. Há uma explicação psicológica para aquele condutor que transfere sua vocação de onipotência para o volante. O motorista presunçoso se considera imbatível. Transfere para a máquina a sua vontade de sobrepujar os demais. A velocidade é um vício equivalente à droga.
Quem não conhece alguém que morreu atropelado, ou à direção, quando voltava de uma balada, quase sempre junto com outros jovens? Quem não sabe de um episódio em que um motorista zeloso, na sua mão de direção, em velocidade compatível, é abalroado e morre por insensatez de um louco à direção?
Não é possível que o Brasil sacrifique o melhor de sua juventude nessa guerra do trânsito. Por isso a urgência de educar a criança desde a mais tenra idade, de maneira continuada, para que ela aprenda a respeitar a vida e nossas cidades e estradas sejam um retrato da civilização com a qual sonhamos. Mas que é hoje muito distante dessa utopia.
O Programa “Se essa rua fosse minha” é um projeto exitoso de formação continuada propiciada ao aluno, com material exclusivo para professores e pais. Não é mais uma disciplina, mas implementado na transversalidade pedagógica. Há uma coleção para o Ensino Fundamental com nove livros, cada qual para um dos anos escolares: “Meus caminhos seguros”, “Viver em uma comunidade mais feliz”, “Eu cuido da qualidade de vida”, “A cidade tranquila”, “Eu sei conviver em harmonia”, “Novos caminhos”, “Muitas conquistas”, “Depende de nós”, “Todos têm direito à vida”, “Todos têm direitos iguais” e “Aposte nessa ideia”.
O programa já atingiu mais de dois milhões e meio de alunos, com doze mil professores formados e já foi aplicado em 150 municípios. Mas precisa continuar e convencer mais e mais pessoas.
Os acidentes de trânsito não são tragédias naturais. São resultado de imprudência, negligência, imperícia, quando não, o que é pior, da vontade predeterminada e deliberada de matar ou ferir alguém.
Somente a educação poderá coibir esse recorde nefasto. Enquanto não tivermos os veículos autônomos, que dispensarão motoristas descuidados, embriagados ou temerários, vamos insistir em programas como este. Para salvar vidas. É o que justifica todo o investimento que nele se faz.