Como todos sabemos, o estagiário é sempre o culpado.
A empregada, também; e o co-piloto, a enfermeira, e o mestre-de-obras.
Na verdade, no caso da construção civil, o culpado é o pedreiro, ou o oreia seca.
Não adianta.
Em qualquer estrutura social - humana ou não -, o culpado é sempre o intermediário, ou o que chegou por último.
O novato é culpado na certa.
Na verdade, contudo, o chicote não come no lombo de quem sabe se defender.
Mesmo o estagiário. Ou o oreia seca.
E a melhor defesa, como a história vem provando dia a dia, não é mais o ataque.
A melhor defesa é o “não sei de nada”.
Mas o senhor não soube do que se passava em seu próprio gabinete?
Não soube de nada.
Não viu as portarias, as publicações?
Não vi nada.
Não ouviu comentarem, não falaram para o senhor?
Ninguém me disse nada.
O senhor, então ...
Eu não sei de nada.( E melhor ainda que não saber de nada é ter alguém para indicar como sabedor das coisas; as coisas que estão perguntando.
Ah! Mas isso quem vai saber é o Francisco. O Chico vai saber!
E onde encontramos o Francisco?
Ah! O Chico infelizmente morreu. Mas é a única pessoa que sabia disso aí. Isso aí era tudo com ele.( E fica assim, o dito pelo não dito.( Há menos que existam provas. Muitas provas. Contundentes. Irretorquíveis.( Se bem que, muuuuiiiiiitas provas, às vezes, atrapalha, confunde o julgador, e aí fica o dito pelo nã dito, também.( Não saber de nada é uma benção.( A maior das bênçãos.( Pra não saber de nada você precisa não ouvir, nem ver coisa alguma. E nem ler, também.( Ou ter um talento nato para mentir. Na cara dura.( O que não é muito difícil de se encontrar hoje em dia.( Já que, como sabemos, os exemplos se multiplicam.( E criam uma sociedade inteira de desentendidos.( Ninguém quer chicote no lombo. Shilept, shilept!( Em país que bandido se safa, não se encontra nem um tonto.( Com o tempo, todos aprendem.