A sociedade brasileira é constituída de um universo de pessoas de todas as classes sociais possíveis e passíveis de uma sociedade complexa. As diferenças étnicas, sociais, psicológicas, financeiras e comportamentais são das mais diversas. É possível encontrarmos no mesmo estado, numa mesma região, numa mesma cidade e num mesmo ambiente, pessoas completamente distintas. Algumas dessas características são frutos da genética e outras são características impostas pelas mais diversas formas de opressão. Quem ainda não sabe ou não sentiu na pele o que os poderes econômicos e os poderes políticos fazem com as pessoas? Onde? Na escola, na rua, no hospital, no trânsito, no campo, na fábrica, na cadeia, no Senado, na Câmara, etc., em todos os locais onde haja filas. Locais onde todos suplicam direitos. Esses poderes sempre abusam da hegemonia que possuem e aproveitam dessa força para escravizar, maltratar, empobrecer, dilacerar, usurpar, difamar, deturpar, desacreditar, ferir, estraçalhar e matar os menos favorecidos pela sorte. Parece absurdo não é? Mas é isso mesmo que você entendeu. Em troca de posições financeiras ou simplesmente sociais as pessoas provocam absurdos na sociedade.
Quem tem o poder de mando ‘lava as mãos’ facilmente, quando aquilo sobre o qual teria que opinar, não lhe traria nenhum benefício. E os menos favorecidos serão sempre injustiçados. Frequente as enormes filas pelas manhãs de todos os dias em ambulatórios e postos de saúde para observar isso. É uma lamúria as pessoas sofrerem dissabores de todo tipo em busca de um mínimo de atendimento. ‘Lavar as mãos’ sempre foi um artifício das classes dominantes. É prático e é uma forma rápida de se eximir de uma responsabilidade que tem quem governa.
A classe política, com as mínimas exceções possíveis, pratica deliberadamente o ato de lavar as mãos diariamente, entretanto, em tempos de eleições voltam a seus campos de colheita e tentam “lavar os pés” daqueles que humildemente lhes concedeu o voto. “Lavar os pés” é ato de humildade, mas tão somente quando o que lava o faz por uma digna causa. E isso nos leva a um passado muito importante quando a uma cena das mais belas provas do amor incondicional de Cristo pela Humanidade, quando o Filho de Deus lavou os pés de humildes pecadores num ato ímpar de humildade. Isso faz-me lembrar uma cena histórica: a de Pôncio Pilatos lavando suas mãos sobre o destino desse mesmo Cristo.
A atitude de Cristo lavando os pés e a de Pilatos lavando as mãos deixa claro profundamente dois tipos de pessoas neste mundo: de um lado, estão poucos, que como Cristo “lavam os pés”, lutando por um mundo de luz, não calam, diante das injustiças, mesmo quando humilhados, assim como perdeu a própria vida em favor de uma boa causa Martin Luther King, entre outros anônimos. Do outro lado estão milhares de Pilatos que simplesmente “lavam as mãos” diante de todo tipo de miséria. Os que não querem se envolver ou se comprometer, os que detêm o poder de intervir, mas preferem se calar, permitindo que diariamente, muitos inocentes como Cristo sejam condenados. Nesse contexto, “trocar os pés pelas mãos” nunca fez tanto sentido.