As duas últimas crônicas publicadas aqui nesse espaço sob o título de Ana, a italianinha 1 e 2, provocaram em leitores um sentimento de compaixão pela história de amor entre um caboclo e uma caboclinha.
A publicação atravessou fronteiras e, através das mídias sociais, chegou até o Rio de Janeiro, na casa de uma sobrinha neta de Ana. Maria Angélica de Castilho. Durante nosso contado, pedi autorização para publicar ipsis lítteris a mensagem que me enviou.
“Rio de Janeiro, 27 de setembro 2019. Prezado senhor, recebi através do amigo João Brazolin, aí de Rio Preto, duas publicações do jornal Diário da Região. Confesso que viajei no tempo e no espaço e pousei onde tudo começou na então vila Rui Barbosa. O lugarejo marcou de forma indelével minha vida e de toda nossa família. Vim pra cá para estudar e aqui fui ficando. Formei-me em medicina e me lembro dos primeiros anos aqui no Rio, me chamavam de caipira, devido ao meu sotaque interiorano. Ensino aos meus filhos sobre a nossa cultura. A cultura caipira. Sinto um desejo enorme em rever antigos amigos, rever, enfim, meu chão amado. O senhor descreveu exatamente como tudo começou entre minha tia-avó e Dioguinho, somente a data é que não confere. Não foi no ano de 1938 e, sim, em 1958, portanto, há cinquenta e um anos. Nessa época, eu era muito criança, fiquei sem entender o que se passava. Só mais tarde é que fiquei sabendo de como realmente tudo aconteceu. A história do idílio dos dois foi uma coisa muito bela. Ana era realmente a moça mais linda que existiu por aquelas bandas. Os grandes olhos azuis sonhadores eram da mais pura magia. Cabelos loiros e ondulados, a pela rosada dava a ela porte de nobreza. Ao casar-se, não foi feliz na escolha. Mesmo amando meu tio-avô, resolveu deixa-lo sem sequer imaginar que ele atentaria contra a própria vida. Sentindo-se culpada, desequilibrou-se emocionalmente. Dava pena de vê-la caminhando entre os cafezais, cantarolando velhas canções napolitanas para afogar suas dores”.
“Como toda família daqueles tempos, nós também éramos muito religiosos e, através de muita reza e também medicamentos receitados por um médico de Rio Preto, minha tia aos poucos foi voltando à normalidade, até se livrar por completo da grande culpa. Aproveitando que o êxodo rural estava em movimento, a família resolveu se mudar para a capital, com a intenção de enterrar o passado. Depois de algum tempo morando na cidade grande, minha tia conheceu uma pessoa. Se casaram. Tiveram três filhos, hoje formados e com família. O marido de minha tia morreu em 2010 e Ana, a italianinha, quatro anos depois. Nos seus últimos dias de vida, dizia que tinha muita vontade de rever a vila, a fazenda e a colônia onde nasceu. Seu último desejo foi realizado em parte. Seu corpo está sepultado no cemitério de Ruilândia.”
Essa foi mais uma história de amor acontecida nas imensidões dos cafezais do sertão do noroeste paulista.