Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a)! O assunto desta semana é polêmico: ao tentar organizar seu dinheiro, você certamente já ouviu falar que você precisa de autocontrole para não consumir por impulso, disciplina para investir todos os meses e uma mentalidade próspera, porque “a riqueza começa na sua cabeça e, depois, desce para seu bolso”. O que queremos te dizer hoje é que tudo isso é BALELA: não é assim que o comportamento humano funciona: é o que você vai entender hoje.
Autocontrole existe, mas não dessa forma que é falado por aí: não é de dentro para fora! Quando falamos de comportamento humano, precisamos entender que temos uma máquina – nosso cérebro – cuja função é interagir e responder ao ambiente. Isso significa, na prática, que você precisa, primeiro, moldar o que está fora: que tipos de estímulos você recebe todos os dias? O contexto em que você está vivendo é coerente com essa ideia de gastar menos, de ser menos impulsivo?
A mesma coisa ocorre com a tal da disciplina: conseguimos desenvolver de fora para dentro. Primeiro, você organiza os estímulos externos que te motivam a ter disciplina: trazer pessoas disciplinadas para seu convívio, por exemplo. Se você quer ser mais saudável, precisa ter, pelo menos, um amigo que tem esse estilo de vida. Se você quer estudar mais, precisa ter alguém próximo que também estuda. E o mesmo acontece com o dinheiro: se quiser gastar menos, ser menos impulsivo e usar melhor seu dinheiro, vai precisar ter referências de pessoas que vivem assim. Se, ao seu redor, você só tem pessoas cujos princípios são “aproveitar o hoje”, vai ser quase impossível não seguir esse movimento.
Portanto, você precisa construir um contexto que seja coerente com as atitudes que você quer ter, por que seu cérebro não tem força suficiente para fazer isso sozinho. Sem contar que mais de 90% das suas atitudes diárias já estão automatizadas e você sequer pensa sobre elas: apenas executa. Então o primeiro passo seria ter mais consciência sobre essas respostas para conseguir promover uma mudança significativa.
Outro ponto polêmico do mundo do dinheiro são as tais das crenças: muitas pessoas defendem que, antes de qualquer coisa, você precisa “mudar seu mindset”. Então, te dão algumas receitas para que você escreva frases prósperas todos os dias, pense sempre positivo e se sinta merecedor de dinheiro. Mas isso não muda absolutamente nada no seu comportamento: não existem segredos, receitas ou passo a passo. Existe um mundo hiperestimulante, em que os anúncios e estímulos de compra estão cada vez mais personalizados, profundos e irresistíveis e um cérebro que responde de forma automática a isso. Não vai adiantar repetir frases de prosperidade na frente do espelho todo dia de manhã, se você não for capaz de entender seu funcionamento, sua história, suas cicatrizes emocionais, o que te leva ao consumo e à dívida, etc. Você não compra pelo que pensa, compra pelo que sente.
Enfim, caro(a) leitor(a): o ser humano é mais complexo do que parece. Reduzir a educação financeira à meia dúzia de instruções que não levam em consideração seu funcionamento comportamental e emocional está longe de te ajudar a gastar melhor e conquistar mais qualidade de vida. Tentar organizar seu dinheiro sem olhar para todas essas variáveis contextuais vai se tornar um fardo: algo muito difícil de fazer por muito tempo. Primeiro, você organiza o que está fora: essa é a única forma de fortalecer o que está dentro. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a)!