Segundo relatos históricos, nossa região começou a ser povoada entre os anos de 1810 e 1820, com a vinda de 160 famílias pioneiras. A terra fértil e generosa logo ganhou destaque e cada vez mais homens e mulheres para cá vieram.
Os Seixas chegaram pelas redondezas por volta de 1851, oriundos de Casa Branca, e, em 19 de março 1852, João Bernardino de Seixas Ribeiro, reunindo famílias alojadas em meio a mataria, rezou terço e levantaram cruzeiro no dia de São José.
A primeira autoridade a passar por essas bandas vindo do front da Guerra do Paraguai foi Alfredo Adriano d’Estragnolle Taunay, o Visconde de Taunay, em 1867. Quando por aqui passou, ainda não era visconde e, sim, tenente do Exército Brasileiro. Era também escritor, músico, professor, engenheiro militar, político, historiador e sociólogo. Depois de quase um mês de viagem, chegou a São Francisco de Sales em Minas. Lá, disseram que, para ele atingir mais facilmente São Bento de Araraquara, teria que passar pela vila de Rio Preto. Ele era acompanhado por uma comitiva composta por 7 pessoas.
Chovia muito quando aqui chegou. No seu livro “Viagem de Outrora”, ele conta em detalhes as cruezas da viagem. A picada em meio a mata com o aguaceiro, as folhas ficavam encharcadas, os galhos pendiam, incomodando sobremaneira cavalo e cavaleiro. Fizeram de tudo para aqui chegar antes do anoitecer, não conseguiram. A escuridão dificultava o avanço, com muito custo avistaram o incipiente lugarejo. Era noite de 18 de julho, por volta de nove horas. Devido ao adiantado da hora, o local estava em silêncio, quebrado pelo alarido dos cachorros. Dos cinco casebres, somente uma casa era coberta de telha de barro, as outras eram de sapé. A comitiva parou em frente a essa casa. Taunay, sem apear, bateu palmas, dizendo que desejavam pouso e que estavam a serviço do rei. Ele foi, sem sombra de dúvidas, a primeira autoridade a dar “carteirada” em nosso município.
João Bernardino de Seixas Ribeiro havia fundado Rio Preto 16 anos antes. Recebeu a todos, mandou que se fizessem janta, trocaram as roupas molhadas, guardaram as capas, desarrearam os cavalos e, naquela noite, depois de muitos dias, dormiram em camas limpas e quentinhas. No outro dia, foram embora pela manhã, em direção à Tapera, hoje vila Ventura, onde almoçaram.
Meu cumpadi, professor e memorialista Antônio Carlos de Carvalho, o “Tonho”, está em fase bastante adiantada no projeto “150 anos da passagem de Taunay”. Pretende seguir os mesmos passos a partir de São Francisco de Sales, do outro lado do rio Grande, em Minas, até Rio Preto. Serão, segundo o professor, 5 marchas. Cada marcha significa um dia de viagem. Tantos anos depois, o caminho não será mais o mesmo. A paisagem selvagem de outrora não existe mais, deu lugar aos imensos canaviais. O que o memorialista deseja é homenagear nossos pioneiros. Aqueles que, desapegados do convívio de seus lares, se aventuraram pelos mais longínquos rincões, muitas vezes encontrando situações adversas, sem esmorecerem.
Professor Carvalho, vivemos dias em que infelizmente as pessoas pensam somente no “ter” e não no “ser”, e vê-lo assim, preocupado em manter vivas nossas memórias, me encanta. Não deixe morrer nosso passado. Até porque o passado não passa.
No seu livro, o escritor cita nossa cidade dizendo: “ Bairro assim tão pobre dificilmente chegará a vila”. Por sorte, Taunay errou feio em seu vaticínio.