...E dando seqüência aos causos de pescadores, dia desse encontro um velho amigo e leitor deste espaço aos domingos.
Esse meu amigo, em tempos passados, mandou adaptar um ônibus só para pescarias. Dono de uma conceituada empresa em nossa cidade pode dar-se ao luxo de disponibilizar o ônibus para ele e seus funcionários e mais ninguém.
Na empresa, o meu amigo tinha um funcionário por nome Ditinho, daquele tipo faz tudo. Se precisava consertar um vazamento, aparar a grama, ir ao banco com senha e tudo, carregar móveis, lá estava o funcionário pronto para servir; e lógico não poderia ficar de fora das pescarias.
Ditinho era querido por todos e, inclusive pelo patrão que adorava a sua filosofia de vida. Gostava de chamar o patrão de chefe, nunca pelo nome. Era chefe daqui, era chefe dali e o Ditinho sempre soltando as suas pérolas:
_Acha chefe, perder pra sapo com trinta anos de lagoa! Dizia o Ditinho quando alguém tentava lhe passar a perna.
Outra do Ditinho:
_Chefe. - dizia ele para o patrão. Três coisas que o homem não segura: água morro abaixo, fogo morro acima e mulher quando quer trair o marido.
Certa feita, o meu amigo mais os funcionários e claro o Ditinho foram pescar no pantanal. Quando chegaram ao rio, o Ditinho parecia ter entrado em depressão. Não queria pescar. Os amigos acordavam de madrugada para aproveitarem o dia de pescaria e o Ditinho dormindo. Chegavam da pesca e o Ditinho “amuado” Ficava esfregando as mãos uma na outra e dizendo sempre:
_Que saudade da minha italianinha! Num vejo a hora de voltar para ver a minha italianinha! Sem ela eu não sou ninguém! Passou os dez dias de pescaria repetindo a mesma frase.
Chegou o dia de voltar. O único a fisgar um peixe foi o meu amigo, um pintado de vinte e dois quilos e só.
Quando chegaram a Rio Preto, o ônibus foi deixando cada pescador em sua casa. O motorista não conhecia a mulher do Ditinho quando chegou a sua casa para descer a “traia” a esposa do nosso filósofo estava esperando no portão. Devia ser umas quatro horas da manhã. O motorista olha bem pra ela e lhe diz:
_Olha dona, a senhora é uma mulher de muita sorte. Seu marido é muito apaixonado pela senhora.
_Como assim. Respondeu a mulher do Ditinho.
_Dona, a senhora não vai acreditar na saudade que ele sentiu da senhora. Ele dizia todo santo dia:
-Que saudade da minha italianinha! Que saudade da minha italianinha!
Infelizmente nesse dia as coisas não acabaram bem para os lados do Ditinho. Sua mulher era Pernambucana.
Como o Ditinho era o “faz tudo”. O meu amigo chama-o no escritório e determina que pegue o pintado leve-o na peixaria para ser cortado em postas. O nosso personagem de imediato vai ao freezer, apanha o peixe de vinte e dois quilos medindo mais ou menos uns oitenta centímetros, coloca-o no porta malas do carro e vai cumprir a tarefa.
Volta três horas depois trazendo dois pacotinhos de supermercado embaixo do braço.
Desconfiado da quantidade do pescado, o patrão pede ao funcionário que coloque o peixe sobre a mesa para unir as partes. O Ditinho treme nas bases. O pintado é colocado sobre a mesa iniciando pela cabeça e umas duas ou três postas a mais e já era o rabo. Coisa de meio metro.
_Ditinho como você explica isso. Falou o patrão.
_Um peixe de vinte e dois quilos quase um metro de cumprimento e ele fica desse tamanho?
_Chefe o senhor não vai acreditar. A serra da peixaria era muito grossa!