Vai “interá” 21 anos da morte de Francisco dos Santos, o Cascatinha. Nasceu em Araraquara em 1919 e morreu em Rio Preto em março de 1996. Foi casado com Ana Eufrosina da Silva, sua eterna parceira, Inhana. (Araras 1923 - São Paulo 1981)
Meu primeiro contato com o duo se quando ainda criança, lá na vila Guebo - Neves Paulista. Meus pais e todos os caboclos da colônia ouviam, nas noites, a rádio Nacional de São Paulo, hoje rádio Globo. Logo depois de “A voz do Brasil”, começava o programa apresentado por Edgar de Souza. Aliás, uma das maiores audiências do rádio brasileiro em todos os tempos.
Meu segundo contato foi quando ele já viúvo. Cascatinha escolheu Rio Preto para viver. Eu o via caminhar pelo centro da cidade, tinha imenso desejo de lhe abordar, falar da minha admiração, mas sempre deixava para outro dia. Esse dia nunca chegou.
A dupla muito penou até chegar ao rádio. O pai era tocador de sanfona em bailes de barracas em antigas fazendas. O filho, para fugir da roça, aprendeu a tocar violão e guitarra e se aventurou a cantar sozinho em circos mambembes que passavam pela sua cidade. Até que conheceu, numa apresentação, o cantor Chopp, Natalicio Firmino dos Santos. Nessa mesma época existia uma famosa marca de cerveja, Cascatinha. Francisco não teve dúvidas, adotou o pseudônimo para estar de acordo com seu parceiro. A dupla Chopp e Cascatinha ficou conhecida em toda a região de Araraquara.
Ana Eufrosina se apresentava também em circos, como solista, em um conjunto formado por seus irmãos. No vai e vem da vida, conheceu Francisco em 1941 e se casaram nesse mesmo ano. Formaram, então, o Trio Esmeralda, com Chopp, Cascatinha e Inhana.
O Trio Esmeralda foi se aventurar no Rio de Janeiro. Apresentou-se e recebeu prêmios em programas de Cesar Ladeira, na rádio Mayrink Veiga, e “Papel Carbono”, de Renato Murce, na rádio Nacional.
Em 1942, o trio se desfez. Agora, como dupla, seguiu novos caminhos. Ingressou no circo Estrêla D’Alva excursionando pelo interior dos estados do Rio e de São Paulo.
Numa entrevista antológica para a TV Cultura em 1973, Cascatinha, emocionado, disse que viriam a estrear em disco pela gravadora Todamérica somente em 1951, com as músicas “La Paloma”, de Iradier e Pedro Almeida, e “Fronteiriça”, de José Fortuna. Esse um dos compositores preferidos da dupla. Como gravavam somente um disco por ano, em 1952 aconteceu o que viria a mudar para sempre a vida dos dois. No mesmo disco rotação 78 gravaram as guarânias “Meu primeiro Amor”, de H. Gimenez, versão de José Fortuna, e “Índia”, de J. Flores e M. Guerreiro, versão também de José Fortuna. Venderam no lançamento a espantosa quantia de 300 mil discos. Até a metade dos anos de 1990, mais de três milhões. Esse gênero musical é de origem paraguaia, em andamento lento, e foi criado em Assunção pelo músico José Asunción Flores, em 1925. Ao longo do tempo, grandes estrelas da nossa MPB regravaram os dois sucessos. No Centro Cultural Daud Jorge Simão, em Rio Preto, existe a sala “Cascatinha e Inhana”, em homenagem à dupla, com objetos, troféus e fotos.
Cascatinha, de onde você estiver, por favor, perdoe esse caipira que, por pura timidez, não se aproximou e lhe disse do muito que o admirava como ídolo que foi de todos nós. Gostaria de voltar ao passado, e junto de meus pais ouvir de novo, na rádio Nacional, o locutor dizer: “E, agora com vocês, Cascatinha e Inhana, os Sabiás do Sertão!”