Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a)! O artigo desta semana tem uma função: te incomodar! No final de semana o Valor Econômico publicou um dado interessante: quase um terço dos brasileiros vende seus dias de folga. O foco da notícia era, claramente, criticar o “excesso de trabalho” e os comentários nas redes sociais mostrou um ponto interessante: grande parte das pessoas colocaram a culpa dessa prática nos contratantes, dando a entender que isso acontece porque as pessoas têm que trabalhar demais para dar conta de tudo (claro, as empresas e seus donos são sempre os vilões da história). Como nosso papel de educadores é provocar e fazer perguntas, deixamos um comentário questionador na postagem: “grande parte desses trabalhadores não ganham mal a ponto de trocar férias por mais dinheiro, mas acabam vivendo sem organização financeira e, por isso, nunca é suficiente. Infelizmente, essa é a realidade para muitas pessoas: trocar qualidade de vida e saúde mental por mais dinheiro. Será mesmo que precisa ser assim?”.
O objetivo do comentário era questionar e gerar reflexão: passamos os últimos sete anos atendendo famílias e podemos afirmar, sem medo, que grande parte dos problemas relacionados a dinheiro tem muito mais relação com a gestão financeira do que com a falta de dinheiro. Obviamente, algumas pessoas criticaram nosso apontamento e chegaram a comentar que “vivemos em outro planeta”. E, se olharmos ao redor, isso é verdade: em um país com 80% da população endividada, ter organização financeira é uma afronta. Não, não estamos falando de ser milionário ou acumular riqueza – estamos falando de uma organização básica que permite a uma pessoa escolher se ela quer tirar 100% das suas folgas ou revendê-las, sem se preocupar com boletos. O que nos leva ao assunto principal deste artigo: se você quiser ter paz na sua vida financeira, vai ter que desapegar da opinião alheia.
Óbvio que vivemos em um país com muitos problemas econômicos, não estamos romantizando e dizendo que não existe pobreza ou miséria. Mas é uma insanidade acreditar que a maioria dos endividados são aqueles que se enrolam comprando arroz, feijão e pagando aluguel. Grande parte das famílias com problemas financeiros estão enroscados em parcelas de celular, financiamento de carros, motos e casas, parcelamentos infinitos de roupas, acessórios, etc. Com exclusão dos que, de fato, vivem na miséria, a parcela da população com maiores problemas financeiros é a classe média, que acaba fazendo péssimas escolhas por desorganização financeira, falta de consciência em relação ao dinheiro e uma mentalidade de consumir da mesma forma que classes mais altas. Profissionais com mais de um emprego para bancar o financiamento do “carro dos sonhos”, comprado na hora errada, com juros exorbitantes. Parcelas infinitas no cartão de crédito. Despesas rotineiras que nem são contabilizadas, apenas vai “passando o cartão”.
Entenda: você vive em um ambiente que favorece o crédito e te leva a gastar, cada vez mais. Quantas publicidades você vê no decorrer de um dia inteiro? Quantos dos seus influencers preferidos te oferecem produtos e serviços o tempo todo? Isso sem contar os modelos de sucesso que temos, o imediatismo dessa geração que precisa ser milionária antes dos 30 anos e a necessidade de aprovação social pelo status. Grande parte dessas pessoas faz escolhas que colocam a corda no próprio pescoço e nem estão se dando conta disso, apenas vão vivendo no automático e terceirizando a responsabilidade.
Se você quiser realmente ter paz e equilíbrio financeiro, vai ter que desapegar em pertencer a este grupo: vivemos em um mundo em que é cada vez mais normal ser “mais ou menos”. Nesta realidade, terão paz e “sucesso” verdadeiro aqueles que tiverem a coragem de “viver em outro planeta”- estudar mais do que a média, se comprometer mais do que a média e fazer mais do que a média. E a média no Brasil é baixa. Dinheiro é consequência de trabalho bem feito: é quando você consegue ajudar e impactar a vida do outro. Sem organização financeira, nenhum dinheiro é suficiente. Portanto, se você está endividado(a) e sente que está perdendo saúde mental, antes de terceirizar a responsabilidade, olhe para si mesmo(a): que escolhas estão te levando a isso? Tenha a humildade de questionar se você mesmo(a) poderia fazer escolhas melhores e buscar formas de se organizar. Neste mundo em que estamos vivendo, se permitir estar errado(a) é um ato de coragem. Que você se permita: sua vida financeira é reflexo disso. Tenha uma excelente semana.