Noite dessas, ao fechar a janela do meu quarto, dei uma olhada no tempo e deparei-me com um céu límpido e claro como há muito não se via. Depois de uma semana de muitas chuvas o firmamento estava novamente luminoso e salpicado de estrelas.
Por uns instantes fiquei a meditar na beleza do universo, na sua grandiosidade e nos segredos que ele encerra. Estava paralisado a ouvir estrelas quando de repente uma cena que há muito não via se repetiu: uma graciosa estrela cadente riscou o céu rumo ao horizonte. Junto da janela fiquei a meditar: como eu podia ter me esquecido da beleza que é uma estrela cadente. Há quantos anos eu não via uma assim tão intensa, tão luminosa e tão bela!
Momentos se passaram sem que eu me desse conta. Em instantes me vi criança na fazenda em que eu morava. E quando nas noites mornas do sertão, as famílias colocavam as cadeiras nos terreiros à porta da sala devido ao calor, para uma prosa, um “paieiro” e para admirar o céu e não raro ver as estrelas cadentes nas noites de lua cheia.
Quando tal fato acontecia, os mais velhos diziam para que não apontássemos o dedo em direção a estrela cadente senão dava “birruga”na ponta do nariz. No máximo que podia fazer era um pedido e com muita fé. Fiz tantos e acho que nunca fui atendido. Confesso, tinha uma vontade enorme em apontar o dedo só para ver se era verdade o que elas diziam, mas o medo era maior. Imaginava acordar no outro dia com uma enorme verruga na ponta do nariz, e o que era pior: a molecada tirando uma na minha cabeça.
Certa noite, eu tive a impressão que uma caiu próxima ao campinho de futebol que ficava no pasto em frente a minha casa. Pensei comigo: amanhã quando eu acordar irei apanhar a estrela cadente. Se ela for bem “pequenininha” eu a coloco numa caixinha de fósforos para quando eu adormecer ela ficar alumiando o meu quarto. Se ela for “maiorzinha”, então, eu a coloco no meio da sala, assim não será preciso acender a lamparina que tem a chama torta e se apaga com um simples vento.
No outro dia pela manhã, levantei-me bem cedo e fui ao local em que ela havia caído. Para minha surpresa não havia estrela no chão e muito menos enroscada no galho de alguma árvore.
Fiquei tão decepcionado em não tê-la encontrado que passei o resto do dia triste, cabisbaixo, pensativo. O que teria acontecido com a minha estrela? Será que alguém também a vira e a apanhou antes de mim? Ou estrela quando caem se desmancham sem que ninguém as veja? Se for verdade, onde estavam os restos da estrela morta?
Comecei a imaginar que as estrelas cadentes eram pura invencionice dos adultos, como eram também as histórias da carochinha. Nunca deixei de acreditar que um dia eu teria só para mim uma estrela cadente.
Um dia já mais tarde, um amiguinho que estava na quarta série veio com uma história dizendo que as estrelas cadentes não passavam de meteoritos. Imediatamente eu quis saber o que era aquilo. Ele então disse que a professora falou que eram pequenas pedras que viajavam pelo espaço e que ao entrarem na atmosfera terrestre elas se desintegravam com o atrito deixando um rastro luminoso. Então as estrelas eram simples pedras muito parecidas com as da Terra.
Mas para mim, elas serão sempre pingos de diamantes presas no céu por cordões invisíveis que ao se desprenderem, deixavam gotinhas espalhadas ao vento.
A noite vai alta. Termino por fechar a janela. Lá fora o firmamento e em algum lugar na Terra um menino igual a mim, sonha com uma estrela cadente!