Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a)! Há duas semanas começamos uma “série” em que estamos trazendo conteúdos básicos de economia, justamente para que você entenda como tudo isso te afeta e como tomar as melhores decisões de acordo com o contexto. Agora que já aprendemos sobre o funcionamento da inflação, precisamos entender como essa questão pode ser controlada e como essas políticas econômicas nos afetam. Por isso, no artigo de hoje, falaremos sobre a Taxa Selic e seu funcionamento.
A Taxa Selic é a “taxa-mãe” de juros da economia: é ela quem norteia todos os juros praticados no país, tanto para quem recebe (por ter dinheiro investido na renda fixa), quanto quem paga (por ter empréstimos e financiamentos ligados à ela). Se trata de uma política econômica: uma das ferramentas utilizadas para conter períodos inflacionários. Na verdade, sua função é “aquecer” ou “esfriar” a economia por meio da liberação de crédito. Funciona mais ou menos assim: em momento de Selic baixa, o crédito fica mais barato e, por isso, as empresas aproveitam para se financiarem, aumentando suas estruturas, empregos, produtividade, etc. Em momentos de Selic baixa, o crédito fica mais caro e, por isso, os empreendedores tendem a segurar seus investimentos e não aumentar sua produtividade.
Pode parecer que não, mas a taxa Selic também molda (ou pelo menos deveria) o comportamento dos consumidores: em Selic baixa, as pessoas tendem a consumir mais, pois o crédito está mais acessível. Com a Selic mais alta, deveríamos consumir menos: é justamente onde ocorre o controle da inflação. A parte da demanda diminui, o que faz o lado da oferta ter folga e os preços se equilibrarem. Isso, se não houvesse liberação monetária na economia (como você já viu nos artigos anteriores).
Um ponto bem importante de se mencionar é que a Taxa Selic é determinada pelo COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central) a cada 45 dias. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, a economia não é determinada pela taxa Selic, é o contrário – a taxa Selic se adapta ao ritmo econômico. Para determinar se ela se mantém, aumenta ou diminui, existe um estudo de todo o contexto econômico, tanto em nível nacional quanto internacional, olhando para muitas variáveis (inclusive o câmbio, PIB, etc.), que vai sinalizar para onde a economia está caminhando. A depender do contexto, a taxa Selic é determinada. Se estamos falando de um ambiente de inseguranças, em que a responsabilidade fiscal (aquela história de gastar menos do que arrecada) está sendo ignorada, estamos falando em momentos de taxa Selic alta.
De fato, viver em um país com uma taxa de juros alta é muito complicado: as empresas crescem menos, gerando menos empregos e arrecadação. As dívidas do passado, contratadas em momentos favoráveis, tornam-se impagáveis e muitas empresas quebram. Pessoas físicas têm mais dificuldade para pagarem suas contas (especialmente porque coincide com períodos inflacionários). A questão é que baixar a taxa Selic na “canetada”, ou seja, se forma forçada, é apenas jogar a conta para o futuro, é como “remediar”, tratar apenas um “sintoma”da doença. A cura definitiva tem a ver com um ambiente mais responsável economicamente, que prevê mais cortes de gastos (especialmente com o tamanho da máquina pública e benefícios de alto escalão), mais incentivo ao empreendedorismo e à produtividade (menos burocracias e leis regulatórias), menos impostos. O quanto um empreendedor precisa pensar, no Brasil, para investir e aumentar sua empresa? O quanto de “risco” o país oferece no contexto atual? Essas são questões diretamente ligadas à inflação e a taxa Selic.
No mundo dos investimentos, conhecer esse funcionamento econômico é premissa básica para fazer boas escolhas: além de ser referência de rentabilidade para vários ativos, a taxa Selic também serve para nortear escolhas de renda variável. O Tesouro Selic é o ativo mais seguro do país e, portanto, serve de referência para todo o rendimento da carteira.
No caso dos endividados, cabe ressaltar que os juros não são determinados apenas pela taxa Selic: aqui também entra a própria taxa de inadimplência, que faz o crédito ficar mais caro pela insegurança dos pagadores, e do próprio histórico de crédito do contratante: quanto menos se precisa do crédito, mais benefícios uma pessoa tem.
O que é melhor para a economia: Selic baixa ou alta? A verdade é que depende: isso vai funcionar como um grande pêndulo que vai e volta de tempos em tempos. A grande questão está nos extremos: quanto maior a distância entre os picos e vales, mais instabilidade econômica estamos vivendo. A forma de se proteger? Manter uma organização financeira que te mantenha flexível, com dívidas controladas e escolhas bem pensadas no dia a dia. No final do dia, não existem atalhos: quanto mais desorganizada for sua vida financeira, mais exposto(a) aos problemas da economia você estará. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).
*Graziele Bombonato Delgado Valereto é formada em Licenciatura em Matemática pela USP, Mestre em utilização de tecnologia no ensino de matemática pela UEM-Maringá, formada no curso de Inteligência Financeira - Gustavo Cerbasi, aluna do curso de pósgraduação em Finanças, investimentos e banking na PUCRS, sócio-proprietária e Professora da Happy Money - Soluções Financeiras e colunista do Jornal A Cidade de Votuporanga