Eu confesso aos amigos leitores que nunca tive e nem tenho a pretensão de me tornar um historiador, pois ao escrever as minhas crônicas eu sempre deixo muito claro que sou um escrevinhador, ou seja: um aprendiz de escritor. Esse ofício deixo aos nossos queridos historiadores Nilce Lodi, Agostinho Brandi, Lelé Arantes, Fernando Marques entre outros que, penso, cumprem muito bem os seus papéis.
Porém, hoje, peço licença aos mestres para entrar em vossa seara prometendo que raramente voltarei em assuntos pertinentes aos senhores.
Acontece que muito recentemente eu estive na cidade de Mirassol e a pessoa que estava comigo se mostrou curiosa ao passarmos pela Rua Padre Ernesto desejando saber quem foi o personagem que dava nome àquela via.
Prometi que iria pesquisar quem foi a pessoa que emprestava o nome a tão conhecido logradouro da vizinha cidade. E foi na biblioteca do Filial do Racionalismo Cristão daquela cidade que encontrei um livreto fotocopiado de artigos de jornais da época em que o padre viveu na então pequena vila.
Padre Ernesto Maria de Fina era natural de Sala Consilina, província de Salerno, Itália, tendo nascido a trinta de novembro de 1867.
Antes de assumir a antiga paróquia de Mirassol, em 22 de dezembro de 1922 ele já havia passado pelas cidades de Casa Branca, Cruzeiro, Pouso Alegre, Três Corações, Tabapuã e Ibira.
Como a paróquia havia sido construída em 1912 pelos antigos fundadores ele achou por bem construir uma nova igreja e em 1930 ele terminou a magnífica obra de arte que permanece até aos dias de hoje.
Padre Ernesto Maria de Fina foi um personagem dos mais discutidos da história de Mirassol, permanece vivo e humano na saudade e na admiração daqueles que lhes cultuam a memória.
Homem de hábitos muito simples vivia pelos sítios e fazendas buscando donativos para a construção da sua tão sonhada igreja.
Nos recortes de jornais encontro um fato digno de nota: em 1924 o empresário Cândido Estrela adquiriu o antigo cinema que funcionava num pavilhão de madeira. Acontece que a capela do padre estava sempre cheia e o cinema vazio, pois a missa era no mesmo horário do cinema. O Sr. Cândido Estrela teve uma idéia e foi falar com o Padre Fina propondo-lhe que começasse a missa um pouco mais cedo e ele, iniciaria a projeção dos filmes um pouco mais tarde. E propôs ao padre certa porcentagem sobre os lucros. O padre viu naquilo um bom negócio já que estava precisando terminar o seu intento.
A partir daquele dia, a capela permanecia cheia e após a missa todos iam ao cinema. Padre e empresário estavam felizes com o andamento das coisas.
A cidade de Mirassol na manhã de 14 de novembro de 1930, (portanto vai completar oitenta e um anos no próximo mês), acordou abalada com uma trágica notícia.
Dias antes, o padre se comprometera a rezar uma missa de sétimo dia na capela de Balsamo por intenção a alma de um cidadão, antigo agricultor da região. Naquele dia o padre amanhecera um tanto indisposto, pois àquela altura da vida era um homem com a saúde debilitada.
Inúmeras pessoas aguardavam debaixo de uma garoa fina a chegada do vigário na capela de Balsamo, devido a demora, dois filhos do agricultor foram a Mirassol saber o que estava se passando.
Chovia forte quando chegaram a cidade e encontraram o padre acamado, assim mesmo tentaram a todo custo convencê-lo a ir com eles. O pároco diante da insistência disse que não iria, pois estava muito doente e que deixassem para outro dia.
Diante da recusa, um dos irmãos, saca de um revolver e naquela manhã de domingo chuvoso, Mirassol e região choraram a morte e sentem saudades até hoje, do grande homem que foi: Padre Ernesto Maria de Fina.