Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
“Sei que já falei sobre ela inúmeras vezes, no entanto, não me canso de repetir, tudo nela é encantadoramente fascinante, até mesmo o nome.”
“Qual é mesmo o nome?”
“Ela tem um nome que forma um palíndromo indefectível, a um tempo singelo e nobre, sublime e despretensioso, um nome que repetirei até a consumação dos dias, chama-se Ana, eu a conheci em Sábia, sua aldeia natal.”
“Será que a sábia Ana de Sábia continua vivendo em Sábia?”
“Sim, Ana continua vivendo em Sábia, e ainda conserva o mesmo hábito.”
“E... qual é esse hábito?”
“O hábito da leitura, Ana é uma leitora contumaz, todos os domingos ela acorda, banha-se no riacho que banha Sábia, veste-se e segue para a estação ferroviária levando vários livros. Assim que o trem estaciona na plataforma, ela entra no vagão-biblioteca e efetua a troca dos livros já lidos por outros, assim, Ana vive viajando, sem jamais seguir com o trem.”
“Uma biblioteca itinerante, esplêndida ideia!”
“De fato, uma esplêndida ideia, mas, é preciso esclarecer que, procurar pelo vagão-biblioteca foi a escolha de Ana, o trem tem inúmeros vagões: o vagão de armas brancas, repleto de punhais, sabres e afins; o vagão de armas de fogo e munição; o vagão de cocaína e todas as demais drogas existentes... enfim, o mesmo trem transporta sonhos e pesadelos, carrega indiferença e caridade; é o trem do viver, cabe a cada pessoa fazer a própria opção.”
“É verdade, agora que você mencionou, tenho de concordar, é mesmo possível viajar com os livros, pode-se viajar nas asas da imaginação e... pode-se, também, viajar com drogas, entretanto, há viagens cujo retorno pode ser extremamente penoso e, por vezes, nem mesmo se consegue a passagem de volta.”
“A bem da verdade, muitos optam por viajar com drogas porque essa é uma viagem que não pede nenhum esforço mental, e como é sabido, pensar pode ser um processo doloroso; há, ainda, a influência do imediatismo humano na escolha das drogas como transporte ou meio para se empreender uma viagem; drogas têm um diferencial que fascina, elas são capazes de proporcionar viagem veloz, mas, quando a viagem é empreendida em alta velocidade, o viajante não consegue apreciar a beleza da paisagem ao longo do caminho percorrido.”
“Concordo, mas,,, voltando a Ana, ele deve ter lido muitos livros, certo?”
“Sim, Ana leu uma montanha de livros.”
“Isso aí é uma hipérbole, confere?”
“Presumo que esteja se referindo à figura de retórica que consiste na ênfase resultante de um exagero deliberado, e não à curva aberta da geometria, certo?”
“Isso mesmo.”
“Mas não, não há exagero algum, Ana, de fato, leu uma montanha de livros, com a doce e elegante Ana aprendi que livros são passaportes para o autoconhecimento e para aprender a ler o mundo, ela me ensinou a viajar sem sair do lugar.”
“Eu gostaria de conhecer Ana, onde fica Sábia?”
“Sábia fica na mente daqueles que são capazes de entender que sempre há uma escolha, quem nasce na aldeia de Sábia é sábio, assim, Ana é duplamente sábia, é sábia por ter extensos e profundos conhecimentos, e sábia em função do adjetivo pátrio; quanto a conhecê-la, sugiro que a procure nas linhas e entrelinhas do (s) texto (s).