Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a)! Você já deve ter ouvido por aí – inclusive por aqui, nos artigos semanais - que um dos pontos mais importantes para cuidar do dinheiro são suas crenças. Isso é bem verdade, já que sua mentalidade vai guiar seus comportamentos, mas não é desse jeito romântico que você vê em livros sobre “mente milionária”. Mudar mentalidade NÃO é sobre falar meia dúzia de frases sobre riqueza e prosperidade todo dia de manhã. Hoje queremos abordar aqui uma linha de pensamento responsável por grandes tragédias na vida financeira das pessoas: o tal do “agora já começamos, vamos até o final”.
Essa mentalidade aparece em um momento bem específico: você tomou uma decisão que envolvia seu financeiro, percebeu que deu um “passo maior que a perna”, que vai faltar dinheiro, que as coisas foram para um lugar bem diferente do que você planejou e...motivado(a) pelo viés do otimismo, que é aquela sensação de “vai dar tudo certo no final”, você persiste no erro. Se você estivesse viajando de carro e tivesse errado a rodovia, buscaria o primeiro retorno possível ou procuraria outra rota no GPS. É o que deveria acontecer com seu dinheiro (mas não acontece).
O viés do otimismo te faz ignorar todos os sinais e abraçar todo o risco de dar errado: com a ideia de que não dá para ficar pior, ao invés de parar para avaliar as escolhas, reavaliar o que deu errado e pisar no freio, você segue adiante como se nada tivesse acontecido. Quer ver como isso acontece na prática?
A Maria é uma psicóloga cujos resultados do último ano foram maravilhosos. Agora, ela não quer mais atender apenas seus pacientes, quer montar uma clínica de saúde mental, com vários profissionais e oferecer várias soluções ao mesmo tempo. Por sorte, o gerente da Maria liga para ele falando sobre uma linha especial de crédito no valor de R$100 mil, caso ela queira aproveitar essa “oportunidade”. Maria pensa: é agora! Sem pensar duas vezes, sem analisar seu caixa, sem olhar para os riscos, ela contrata o empréstimo e, antes mesmo de ser totalmente aprovado, sai tomando as decisões importantes, para conseguir adiantar: consegue alugar um novo espaço – com aluguel 5 vezes maior do que pagava antes - , conversa com um engenheiro e um arquiteto e começa a colocar seu sonho em prática. Mas a obra que ela, de cabeça, calculou R$200 mil, agora está custando R$400 mil. Maria se desespera e pensa: “agora já comecei, vou até o final”. E isso a coloca em uma condição de dívida quase impagável, já que ela foi passando os gastos de acabamento no cartão de crédito. Resumo da ópera: Maria enrolou a corda em seu próprio pescoço e transformou um negócio que estava sendo próspero em algo que dá prejuízo todos os meses – sabe-se lá quanto tempo ela vai ter que trabalhar, loucamente, para cobrir esse caixa (se é que essa empresa vai parar em pé por muito tempo).
Mas isso não acontece só com empreendedores não: o Pedro e sua família tinham o sonho de construir a casa própria. Conseguiu juntar um bom dinheiro para começar e pensou: é agora. Começou a obra e as coisas foram acontecendo. Quanto mais próximo de finalizar a obra para conseguir se mudar, mais decisões ruins Pedro tomava: começou a tirar dinheiro da empresa para cobrir o que saiu do previsto. Não contava com a inflação do preço dos materiais. Percebeu que, talvez, devesse ir mais devagar, mas agora, “já tinha começado, vamos até o final”. A coisa apertou de tal modo que a ideia de pegar empréstimo, tanto para cobrir o que faltava da obra, quando para ter capital da giro na empresa, começou a parecer um caminho viável. E ainda tinha um agravante: como er a casa dos sonhos e ele acredita que só iria construir dessa vez, foi colocando tudo o que sempre sonhou – mesmo que isso custasse mais alguns milhares de reais.
O que Pedro e Maria tem em comum? Ambos tomaram decisões sem considerar o mundo real – levaram em consideração apenas os melhores cenários possíveis, não pensaram no que poderia dar errado e, na ânsia de realizar o sonho, foram fazendo decisões baseadas no “agora já foi, seja o que Deus quiser”. Acontece, caro(a) leitor(a), que o “inferno tem subsolo”, ou seja, as coisas podem sim piorar, e muito! A situação pode se agravar a ponto de uma empresa que estava prosperando quebrar, ou a família do Pedro quebrar e ficar para sempre pagando dívidas. Não tome decisões baseadas no viés do otimista: no mundo real, nem tudo dá certo e sai conforme planejamos. Ao perceber um erro, ao entender que o passo foi maior do que deveria, pise no freio! Busque formas de gastar menos! Corte custos! Deixe para colocar tudo “dos sonhos” depois, aos poucos. Este acaba sendo um preço muito alto a se pagar, podendo durar toda uma vida.
Temos a tendência de tomar decisões em cenários favoráveis, sem considerar que eles podem não durar por muito tempo. Sempre vamos avaliar que seremos capazes de pagar a alta prestação do financiamento, que estaremos sempre saudáveis e bem para trabalhar e faturar o máximo possível, que nossa empresa sempre vai bem como foi no último ano, mas a verdade é a vida muda – e talvez essa seja sua graça. Ao tomar decisões assim, precisamos olhar além do nosso desejo de que dê tudo certo: “você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade”(Ayn Rand).
Erros fazem parte: somos humanos. Mas, assim como em uma viagem, você não hesita em buscar o retorno quando erra o caminho, não hesite em pisar no freio com seu dinheiro. Custa muito para construir algo de valor, como uma empresa ou um sonho: não deixe que isso se torne seu pior pesadelo. Não tome decisões baseadas na sensação de que “tudo vai dar certo no final”. Cuidado com essa mentalidade: no mundo real, não funciona sempre assim! Lembre-se disso e tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).