As tardes chuvosas dos dias atuais me fazem alembrar dos tempos em que eu trabalhava na roça. Quando o aguaceiro caia, além de ficar com as vestes molhadas a terra ficava encharcada não permitindo que nela se trabalhasse. Era o que nós queríamos. Sem muito esforço, as ferramentas eram deixadas embaixo dos pés de cafés e lá íamos nós em direção às nossas casas. Encontrando aqui e ali pelos carreadores e trilhos em meios aos imensos cafezais outros caipiras nas mesmas condições. Alguns levando à cabeça feixe de lenhas, outros levando dentro de sacos de estopas mamão verde para os porcos, outros ainda levavam manojos de serralhas ou mostardas colhidas entre os pés de cafés para o jantar.
Os cafeeiros carregados de frutos maduros com os ponteiros repletos de grãos vermelhos, pendiam em delicados movimentos de balé, açoitados pelo vento, faziam um espetáculo à parte diante dos olhos atento do caboclo.
Ao chegar em casa, o caboclo sabia que a água quente esperava sobre o fogão de lenha, era o momento de tomar banho no chuveiro Tiradentes. Após o banho, enquanto esperava o jantar o caboclo ligava o rádio “Semp” para ouvir seus programas preferidos.
O rádio era a única comunicação com o mundo exterior. Toda a informação vinda era comentada entre os colonos. As casas eram construídas muito próximas umas das outras e ouvia-se perfeitamente qual o programa que o visinho estava ouvindo.
O tema do rádio surgiu após ver pela televisão a posse da nossa Presidente Dilma em Brasília. O fato chamou a atenção, pois foi ao vivo, se fosse quando da inauguração da capital, nem pelas rádios locais ouviríamos a posse.
Me fez lembrar os radialistas Adib Muanis e Paulo Serra Martins quando munidos de um grande gravador e outros equipamentos foram escalados há cinqüenta anos para a inauguração da nova capital.
Neste espaço, fiz há algum tempo uma homenagem a Adib Muanis escrevendo o artigo “O rei do rádio: um imortal”, ao Paulinho, faço-a agora.
Eu conhecia a voz do Paulo Serra Martins desde os tempos da boa e velha Rádio Rio Preto, mas, não o conhecia pessoalmente, vim a fazê-lo, quando eu trabalhava nas ruas da cidade como policial militar orientando o trânsito.
Paulinho, como é carinhosamente chamado pelos amigos, iniciou sua carreira radiofônica na antiga Rádio Rio Preto PRB8 em junho de 1950 através do professor Jorge Khauam. O seu primeiro sucesso como apresentador foi “O ouvinte faz o sucesso”, outros programas viriam entre eles: “Comparação musical”, “Um piano ao cair da tarde”, “Tangos e boleros”, “Serestas e seresteiros” e até programa para crianças o Paulinho apresentou. Era o infantil “Patinho na discoteca” apresentando músicas gravadas pelo palhaço Carequinha.
Além do rádio, Paulo Serra Martins militou em todos os jornais de nossa cidade e também na televisão e rádios da capital. Em 1968 foi contratado pela TV Paulista de São Paulo (atual TV Globo) passando logo a seguir para a Rádio Nacional integrando a equipe de esportes. De volta a nossa cidade trabalhou no Canal 8, (hoje Record).
O grande eclético da comunicação lançou pela Editora THS em 2007 o livro Nas ondas da B8 História do Rádio de São José do Rio Preto.
Em seus programas radiofônicos, o Paulinho gostava de recitar trechos de poemas do também radialista Zacharias Fernandes do Valle entre eles: “Infeliz de quem passou pelo mundo procurando no amor felicidade. A mais doce ilusão dura um segundo e dura a vida inteira uma saudade”
Pois é. Saudade dos cafezais... Da vida que passou. As rádios como antes não existem mais. Bons tempos aqueles. Não é Paulinho?