Dia desses revirando as minhas coisas no velho baú das recordações, encontro uma fita K7 gravada há mais de vinte anos. Fico imaginando o que possa ter gravado no seu conteúdo. Imagino comigo: fácil, vou colocá-la para rodar e saio “campeando” um aparelho de som onde possa ouvi-la. Claro que não encontrei. Não existem mais toca fitas pela casa e também não encontrei com amigos.
Mas, parece que foi ontem mesmo que surgiram os TKRs vindos com os executivos de fronteiras, como eram chamados os sacoleiros que buscavam tais preciosidades no Paraguai. E hoje, desapareceram. Assim como o disco de vinil que deu lugar ao cd que está cedendo passagem ao MP3 e outros MPs.
Os modismos acontecem numa velocidade tal que fica difícil acompanhar. Os aparelhos de celular que antes eram usados para simples comunicação entre duas pessoas, mesmo assim com muita interferência, hoje tem GPS, receptor de TV e uma série de outros itens. A TV de plasma ou LCD ganhou proporções gigantes de que dependendo, são maiores que o próprio ambiente.
Uma série de equipamentos estão em constante evolução, mas o que me chamou a atenção num canal de TV especializado em vendas foi uma máquina de fazer pão. A geringonça recebe todos os ingredientes na noite anterior após programá-la, na manhã seguinte ela liga sozinha e na hora que o dono levanta-se, saboreia o pão quentinho.
Fiquei imaginando na facilidade em tomar café com um pão fresquinho, mas, lá no fundo acho que não quero ter uma máquina dessas, pois onde fica o romantismo?
Mesmo fazendo no forno a gás onde acionando um botão controlamos a temperatura, e ficamos vigiando para o pão não queimar, ainda existe um toque de sensibilidade.
Lembro as mulheres da roça que para fazer a deliciosa iguaria tinham todo um ritual que se dividiam em duas etapas. A primeira era amassar o pão, passar no cilindro várias vezes até ficar uma massa fininha, enrolar e deixar crescer sem antes colocar uma bolinha da massa num copo com água. Quando a bolinha subisse, estava na hora de enfornar o pão.
A segunda etapa e a mais difícil era acender o forno, pois exigia um grande conhecimento que era passado de mãe para filha que consistia no seguinte: colocar a lenha no forno, geralmente troncos de pés de cafés velhos, acendê-lo e esperar pela temperatura ideal. Mas qual temperatura? Se a mulheres da roça desconheciam o tal termômetro.
A ação era retirar toda a brasa de dentro do forno assim que as paredes ficassem brancas pela alta temperatura, muito quentes o pão podia torrar antes de assar. A temperatura era controlada usando uma “bassora” de guanxuma ensopada num balde de água e aos poucos iam salpicando até baixar o calor.
Com tiras de folhas de bananeiras era que se sabia se o forno estava no ponto. As tiras eram jogadas no interior do forno, se enrolassem rapidamente o forno ainda estava em excesso de calor, então era borrifado mais um pouco de água. Quando as tiras no interior do forno se enrolavam devagar, ai era a hora de “enfornar” os pães e esperar que assassem olhando de vez em quando.
O aroma dourado do pão de torresmo assando aguçava os sentidos dos passantes. Cortar o pão quentinho e encontrar pedacinhos de torresmos no seu interior era de tal magia que pareciam gotas de ouro, tal a sua preciosidade.
Hoje, em minha casa, não tenho a possibilidade de assar no forno a lenha, mas, resisto à entrada da máquina de pães em nossa cozinha. Continuo a fazer artesanalmente o pão de torresmo que ao assar exala o mesmo aroma dourado da minha infância.