Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a)! Alerta: o artigo de hoje tem o objetivo de trazer um pouco de senso de realidade ao mundo dos investimentos – não leia se for sensível. Com uma breve pesquisa na internet você consegue mapear quais são os cursos e livros mais vendidos do mundo do dinheiro e da riqueza. Sem dúvida, se você se interessa pelo mundo dos investimentos, já ouviu falar de Warren Buffett, Luiz Barsi, Benjamin Graham, Howard Marks, etc., considerados grandes investidores da história, com resultados excepecionais. Porém, 99% das histórias, livros e conteúdos sobre essas personalidades tem algo em comum: eles só vão falar dos acertos. Nenhuma biografia de sucesso vai vender o que deu errado, as angústias das escolhas, a dúvida, etc. Por isso, esse é o assunto dessa semana: os erros são inevitáveis e você precisa aprender a lidar com eles.
O ser humano é um “bicho esquisito”: temos a tendência de acreditar que temos o controle da nossa vida. Acreditamos ser mais espertos e inteligentes do que realmente somos, acreditamos ter mais informações e dados do que realmente temos e acreditamos ser racionais e analíticos com os investimentos. Além disso, ignoramos o efeito da sorte ou do azar sobre nossa vida e temos a tendência de acreditar que “vai dar tudo certo no final”. Em finanças comportamentais, chamamos isso de “viés da confiança excessiva” e “viés do otimismo”. Juntos, eles significam uma bomba de más decisões com seu dinheiro – tanto para gastar quanto para investir – e te levam a tomar essas decisões erradas com mais frequência do que deveria.
Portanto, se você decidir começar a investir seu dinheiro, esta é uma verdade incontestável: você VAI ERRAR! Pode estudar o quanto quiser, passar dias e noites avaliando dados, olhandos demonstrativos das empresas e documentos de fundos – você sempre terá uma visão enviesada pela sua visão de mundo, pelo que acredita e pelas informações que tem no momento, que sempre serão incompletas. Errar é humano: faz parte de todos os âmbitos de sua vida. Você pode viver iludido(a) achando que não vai acontecer com você, ou pode aceitar tal fato e começar a ter alguma estratégia sobre ele.
No mundo dos investimentos, não é possível acertar todas as vezes: você vai errar a escolha de alguns ativos, vai pagar mais caro do que deveria, vai vender antes da hora, vai comprar no preço máximo, etc. A questão é: o que acontece quando você comete um erro? Quanto de dinheiro você perde? O quanto você se expõe ao que pode dar errado? Por isso o conhecimento e a estratégia são tão importantes: eles são controladores de erros. Ao entender o que você está fazendo e aceitar que o erro faz parte do processo, você consegue criar boas estratégias para lidar com eles.
No livro A psicologia financeira, Morgan Housel aponta que o segredo para ter sucesso com seu dinheiro é que uma escolha errada de investimentos aqui ou um sonho não realizado ali não tirem você do jogo, não te façam desistir. Isso é a mentalidade de sobrevivência que falamos no mundo dos investimentos: os erros não podem ser fatais. É como aprender a andar de bicicleta: você pode cair, fazer alguns ralados aqui e ali, mas não pode morrer.
E o que “te blinda” de si mesmo(a) nos investimentos? O conhecimento. É ele quem vai te ajudar a fazer uma estratégia que esteja de acordo com seu perfil de risco, seus objetivos, sua renda, sua realidade. É ele quem vai te ajudar a cuidar das variáveis que podem representar os erros do caminho, para que eles sejam pequenos e não tragam a ruína. É ele quem vai te ajudar a ter uma boa diversificação da carteira, escolher bons ativos e lidar bem com o risco. Portanto, ao pensar em investimentos: adquirir conhecimento sobre esse mundo sempre será seu primeiro aporte. Busque informação e não saia confiando em qualquer um: procure profissionais “skin in the game”, que praticam aquilo que indicam ou ensinam. Procure profissionais que tenham o mínimo de conflito de interesses com seus resultados.
Dinheiro é coisa séria por ter um fator protetivo importante na nossa vida: ele nos dá conforto e acesso. Ele resolve problemas e nos tira da “zona de sobrevivência”. Mas ele também pode se tornar um problema se você não souber lidar com ele e com todas as emoções ao seu redor. Não é porque o risco existe e o erro vai acontecer, que você não precisa de ferramentas para lidar bem com eles. A vida é e sempre será uma contenção de riscos e você sempre terá a opção de ignorá-los ou aprender a conviver com eles. Qual sua escolha? Tenha uma excelente semana, caro(a) leitor(a).