Morar no mato, como se dizia antigamente, era um tanto custoso, mas, tinha o seu lado bom. Imagine acordar de manhãzinha ouvindo o cantar dos galos em toda vizinhança. Quando do dia claro, a grande orquestra de pássaros de todos os sons e todas as cores fazendo um barulhão. Ver nas plantas as gotinhas de orvalhos era como se tivessem vestidas de turbilhões de diamantes a espera do rei sol. Era por demais emocionante.
Os animais no pasto buscavam a ração no cocho acabada de ser colocada pelo retireiro, seus filhotes davam saltos de contentamento como que agradecidos pelo carinho. Brincar com os bezerros, carneirinhos e potrinhos era um dos meus passa tempos preferidos.
Só havia um porém de morar na roça, quando alguém ficava doente. Eram momentos de muita aflição por parte dos pais, sem recursos para procurar um médico e também pela distância optava-se em buscar na horta, pomares e fundos de quintais o lenitivo para as dores.
O caboclo mantinha plantado em pequenas vasilhas ou no quintal, várias espécies de plantas medicinais para os mais variados males. Para os recém-nascidos, minha avó mantinha plantado no rego d’água que escorria do batedor de roupas, pés de poejo contra cólicas, era fazer o chá e a dor passar.
Quem não se lembra da amarga losna, contra má digestão e problemas do fígado? Enfim, os remédios caseiros eram tantos que fica impossível enumerá-los neste espaço. E quando a coisa ficava mais complicada, o que fazer? No nosso caso, íamos até a casa do administrador e pedíamos a ele para fazer uma ligação no telefone de manivela com bocal para o seu Alberto Olivieri da Farmácia Central e, em pouco tempo lá vinha ele descendo pela alameda de eucaliptos, a bordo do seu carrão preto trazendo o alívio para quem estivesse sofrendo. Nessa época o estabelecimento era o primeiro de quem chegava à cidade e o último de quem saia. Depois dela somente o bar Santo Antônio esquina das Ruas Bernardino com Independência. Por anos, a rua manteve-se sem asfalto. Na época das secas, passava um caminhão pipa aguando a via. Durante as chuvas era uma lama que só vendo!
Meus pais eram clientes da farmácia desde a época do seu Valdomiro Lopes da Silva que em 1965 vendeu-a para o seu Alberto Olivieri. Nesta mesma época, inicia como aprendiz de farmácia, um garoto de nome Carlinhos com apenas 10 anos de idade.
Carlos Aparecido Pianta, poucos conhecem, mas, se falarmos no Carlinhos da farmácia a coisa muda de figura. Está há exatos 44 anos exercendo a profissão de farmacêutico, passou por todos os cargos e há de 24 anos adquiriu a farmácia em sociedade com o amigo Fernando Floriano.
Nunca vi o Carlinhos de mau humor ou tratando alguém que não fosse com um sorriso e carinho. Penso que somente com a sua aproximação, a pessoa tem melhoras em metade da dor, tal o seu envolvimento e delicadeza para com os clientes. As pessoas de posse das receitas médicas fazem fila de espera para falar com ele. Suas palavras são sempre ouvidas, faz de tudo para bem orientar o cliente.
Recentemente numa manhã de domingo, em uma enquete informal entre amigos na pastelaria do Tadao, no Mercado Municipal, o Carlinhos recebeu expressiva votação como personalidade rio-pretense que inspira respeito e confiança.
Relembrando uma velha propaganda de um antigo banco: o Carlinhos da farmácia é gente que faz!