Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
Os três homens falavam sobre a floresta Amazônica quando o garçom depositou três chopes sobre a mesa sete e seguiu rumo à mesa oito. Onofre tomou um bom gole, olhou para Leandro e Murilo – os dois outros que ocupavam a mesa sete – e disse:
“Não fizemos uma escolha prévia, ocupamos aleatoriamente a mesa sete, isso não pode ser uma coincidência, aliás, coincidências não existem.”
“O que quer dizer com isso?”, perguntou o Leandro.
“Como é que é?!”, surpreendeu-se o Onofre “vocês nunca pararam pra pensar que a semana tem sete dias e que são sete as notas musicais? sem falar nos sete selos e nos sete trovões.”
“Mas o que é isso? Um enigma?”, indagou o Murilo.
“Sim, um enigma”, confirmou o Onofre “um enigma que está prestes a ser decifrado.”
O Onofre era mesmo um sujeito enigmático, além de adepto de teorias conspiratórias. Engoliu um pouco mais de chope e continuou:
“Estávamos falando sobre... Ah, claro, sobre a floresta, fiquem sabendo que a destruição da floresta Amazônica é apenas um pequeno movimento de uma peça no tabuleiro, o jogo é maior.”
“De que jogo você está falando?”, perguntou o Leandro.
“Do grande jogo de xadrez cujo prêmio ao vencedor é o poder”, respondeu o Onofre, “e quando digo poder, refiro-me ao poder amplo e irrestrito.”
“E quem são os jogadores?”, perguntou o Leandro.
“Assim fica difícil”, disse o Onofre, “vocês não sabem nada? Não perceberam ainda que existe um grupo de donos do mundo? Os donos do mundo são os jogadores!”
“Espere um pouco”, disse o Murilo, “se eles já são os donos do mundo, por que jogam o jogo?”
“Não acredito! Aprendam que o velho sonho humano divide-se em duas partes”, afirmou o Onofre, “a chegada ao poder e a manutenção do poder.”
“E quanto à floresta Amazônica?”, arriscou-se a perguntar o Leandro.
“Já disse que a floresta é apenas uma peça do jogo”, respondeu o Onofre, “vão internacionalizar a floresta, o próximo movimento será a tomada do país, lembrem-se que temos a maior reserva de água doce do mundo, além de solo fértil, nióbio...”
Uma semana depois, Onofre foi à praia. Tomou umas caipirinhas e resolveu que não estava em condições de mergulhar. Entrou no mar somente até o ponto em que a água atingiu-lhe a cintura. De repente, correu para a areia como um raio. E continuou em alta velocidade, ultrapassando automóveis e motocicletas. No centro da cidade, a polícia precisou organizar um cerco para detê-lo. Na delegacia, o delegado deu um soco na mesa e disse ao Onofre:
“Correndo só de sunga pela cidade! Vai ser enquadrado por atentado ao pudor!”
Passaram um sermão no Onofre e o mandaram embora. Quando ele chegou a casa com aquela roupa estranha e olhos ainda arregalados, explicou à esposa:
“Os escoceses têm um plano para destruir o Brasil, acabo de ter uma prova, vi um ameaçador filhote do monstro do lago Ness...”
“Como é que é? Você ficou louco?”
“Eu juro que vi!”
Pode ter sido uma alucinação, um pato inflável de borracha ou... Talvez o Onofre tenha mesmo visto o que disse que viu, Afinal, tudo aconteceu num dia sete.