Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a)! Na última semana um grande influenciador de finanças, casado com uma grande influenciadora do mundo do emagrecimento, vinculou um “vídeo vendedor”, cuja frase final era: “só não emagrece e enriquece quem não tem vergonha na cara”. O objetivo aqui não é criticar diretamente os influenciadores, mas trazer uma reflexão importante do quanto tratar de dinheiro e vida saudável desta forma pode ser algo irresponsável e superficial. Nosso propósito é provocar reflexões – é assim que crescemos e evoluímos.
O primeiro ponto é entender o que está por trás de uma decisão, o que vamos organizar em quatro pilares: informação, ambiente, crenças e atalhos mentais. E aqui começa o primeiro equívoco: grande parte das pessoas acredita que tomamos decisões ruins por causa de falta de informação. Por isso, as pessoas estão cada vez mais desesperadas por cursos e mentorias com novas metodologias, novas receitas e ferramentas inifinitas para gestão do tempo, do dinheiro, dos desejos, e por aí vai. Todo mundo sabe que, para ter equilíbrio financeiro, é necessário gastar menos do que ganha e investir bem o dinheiro. Todo mundo sabe que, para ter saúde, é necessário comer alimentos mais saudáveis, diminuir a ingestão de farinhas e doces, fazer alguma atividade física com constância... Então, por que grande parte das pessoas não faz isso? Nós respondemos: porque informação não é suficiente – o que nos leva ao segundo pilar.
O ambiente são os contextos em que você toma decisões: é diante de uma notificação do celular? Em um passeio no shopping? Por que um amigo te convidou para algo? Ou então, seu influencer preferido indicou um produto? É quando você se sente entediado(a)? Estressado(a)? Com sono? É depois de um dia cansativo de trabalho? Em quais contextos você compra? Em quais acaba pedindo comida por aplicativo ou se rendendo a um doce? A função do nosso cérebro é captar estímulos e responder a eles com um comportamento, uma ação – e somos diariamente bombardeados pelos mais diversos estímulos possíveis. Isso sem contar que 95% das nossas decisões estão no automático, no insconsciente. Portanto, isso é importante: seus comportamentos são modulados pelos diferentes contextos da sua rotina. Mapear quais são esses contextos é um ponto-chave para desenvolver comportamentos mais saudáveis – seja com seu tempo, dinheiro ou alimentação.
O terceiro pilar é sobre suas crenças: elas nada mais são do que memórias no seu subconsciente. Na prática, são regras que determinam como o mundo funciona para você, e seus comportamentos serão coerentes com essas regras. Suas crenças nascem das experiências que você vivenciou desde criancinha: tudo o que viu e ouviu, o que experimentou, o que assistiu, o que ouviu das pessoas ao seu redor e por aí vai. Elas moram no nosso inconsciente e, por isso, são bem complexas de mudar – dependem de um processo de refazer essas memórias. Esqueça essa parte de falar meia dúzia de frases prósperas no espelho todo dia de manhã. Mudar crenças é sobre criar novas regras, observar o mundo ao redor com questionamento genuíno, viver novas experiências e criar novas memórias.
E o último ponto, mas não menos importante: os atalhos mentais. Seu cérebro tem um único objetivo na vida: sobreviver. Isso faz com que ele foque sempre no agora – por isso é tão difícil ter comportamentos em que a recompensa será futura. Em outras palavras: seu cérebro não está nem aí para seus investimentos, seu plano PGBL, sua barriguinha de chope ou seu alto risco de acidente cardiovascular por causa do colesterol. Seu cérebro quer prazer e quer agora: por isso gastar dinheiro, comer um docinho, assistir Netflix, jogar videogame, etc. são muito mais tentadores do que poupar, se exercitar, estudar ou resistir à coxinha. Como está focado no agora, o cérebro vai buscar uma série de atalhos mentais para tomar decisões: ele busca soluções simples para resolver questões complexas.
E o que queremos que você entenda com tudo isso? Que organizar suas finanças ou ter uma vida mais saudável não é sobre ter ou não “vergonha na cara”. É sobre toda sua história; tudo o que você viveu até aqui; todos os hábitos que você construiu; tudo o que você acredita que é ou não capaz de fazer; sua necessidade de pertencimento ou de reconhecimento, e por aí vai. Informação e ferramenta técnica qualquer um aplica: a questão é como lidar com os desafios e tentações diárias (ou seja, com o que é humano). Cuidado para não cair nesse discurso: ele tende a te fazer sentir um fracassado(a), a te desmotivar quanto ao que você pode fazer para melhorar sua própria vida. Ele tende a te colocar em um lugar de acreditar em pílulas mágicas para resolver suas questões, ou te leva a crer que um simples curso vai mudar toda sua história – e isso tem em abundância neste mundo da internet.
Se fosse tão simples assim, todo mundo faria – e estamos vivendo em uma sociedade de envididados e pessoas com sobrepeso, o que não é, nem de longe, “falta de vergonha na cara”. Pense nisso e busque consumir conteúdo de pessoas sérias, que vão respeitar seu funcionamento natural e sua história. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).