Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
O médico olhou para o paciente e perguntou:
“O senhor está sentindo alguma dor específica?”
“Não, não estou sentindo nenhuma dor”, respondeu o paciente.
“Mas... o senhor não é um paciente?”
“Claro que sim, tenho muita paciência.”
“Não é isso, quero saber se o senhor veio a mim à procura de cuidados médicos!”
“É óbvio que sim, o senhor não é medico?”
“Evidentemente, por isso perguntei se está sentindo alguma dor específica.”
“Repito: não sinto nenhuma dor, estou ficando amnésico, por isso o procurei.”
“Hum, amnésico! Então minha pergunta inicial é pertinente, pode ser que o senhor esteja com alguma dor específica e tenha esquecido.”
“Isso não faz nenhum sentido, a menos que esteja anestesiado, o que não é o meu caso, amnésico sente dor como qualquer outra pessoa.”
“Nisso o senhor tem razão, mas... continuemos, qual é o seu nome?”
O paciente sacou do bolso uma carteira de couro de onde retirou documentos – inclusive a Carteira de Identidade – e algumas cédulas de dinheiro. Examinou tudo atentamente e disse:
“Meu nome é Anésio.”
“O caso é sério, não sabe de cor o próprio nome?”
“É claro que sei meu nome de cor, de onde tirou essa idéia esdrúxula?”
“Ora, precisou recorrer a um documento pessoal para dizer seu nome!”
“Não foi isso, ocorre que, justamente quando perguntou meu nome, lembrei-me que, a caminho da clínica, minha carteira caiu do bolso, eu a apanhei da calçada e voltei a guardá-la, mas, como estava com pressa, esqueci de verificar se não tinha ficado para trás algum documento; acabo de averiguar, está tudo em ordem, continuemos.”
“Está bem, o senhor poderia dizer qual foi seu cardápio no almoço de hoje?”
“Não, não posso dizer.”
“Esquecer qual foi o cardápio do seu almoço de hoje assinala que, infelizmente, sua amnésia já está em estágio avançado e...”
“Errou novamente”, disse o paciente, olhou para o relógio e completou, “é cedo, são oito horas e doze minutos, só almoço por volta do meio-dia.”
“Está bem, está bem, vamos mudar o método, diga-me: qual é sua profissão?”
“Sou aposentado.”
“Aposentado não é profissão, vou reformular a pergunta: qual era sua profissão?”
“Astrônomo.”
“A astronomia o desapontou em algum momento?”
“Fiquei desapontado quando, em 2006, a União Astronômica Internacional rebaixou Plutão, que deixou de ser considerado um planeta e se tornou um plutoide.”
“Hum! Provavelmente o rebaixamento de Plutão acionou o gatilho que deu início ao processo da amnésia e...”
“Não creio nisso, talvez eu seja um homem frustrado, sempre quis ser humorista.”
“Mas o senhor é muito engraçado!”
“Sério? Tenho uma piada sobre planeta: sabia que Vênus é um planeta habitado e que o forte de sua economia é a exportação de camisas?”
“Bravo, bravo, formidável, o senhor é muito bom!”
“Obrigado, mas a piada não é minha, na verdade, nem me lembro de quem é!...”