Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). Nesta semana vamos falar sobre um assunto muito comentado do mundo dos investimentos: investir pensando na valorização do patrimônio ou na renda que o investimento trará? E já vamos começar com a resposta que você mais gosta: DEPENDE. Qual seu objetivo com seus investimentos? Qual sua disponibilidade para acompanhar sua carteira? Qual seu conhecimento sobre o assunto? Qual seu perfil investidor? E assim por diante...Essa confusão toda acontece porque, apesar de grande parte das pessoas buscar o investimento para construir liberdade e não depender do trabalho, grande parte dos cursos e orientações da internet estão voltados para compra e venda de ativos – as próprias corretoras vivem de indicações a cada semana. Portanto, os investidores – principalmente os iniciantes – acabam ficando perdidos sobre o assunto.
O primeiro ponto que você precisa entender é que são propostas completamente diferentes. Investir buscando lucrar com a valorização dos ativos significa comprar mais barato e vender mais caro, ficando com o lucro. Isso pode até te ajudar a criar um bom patrimônio ao longo da vida, mas vai demandar tempo e acompanhamento constantes. Neste caso, você sequer precisa se preocupar muito com a qualidade dos ativos em que esta investindo: o que interessa aqui é acertar o preço. E isso faz com que você precise ficar acompanhando gráficos e informações o tempo todo – uma piscada e você perde a oportunidade. Esta é a forma mais estressante e cara de investir – sim, comprar e vender em volume tem custos da corretora, impostos, além do quanto você precisa ficar atento a tudo que está acontecendo no mercado financeiro – o que é quase impossível. Aqui também existe um obstáculo comportamental: o excesso de informações. Por ter que ficar atento o tempo todo, você fica mais exposto a um viés chamado de “sobrecarga de escolhas”. Basicamente, nosso cérebro não sabe lidar com muitas informações ao mesmo tempo e, ao tentar simplificar essas decisões, pega atalhos mentais que podem acarretar prejuízos financeiros.
Investir visando renda é completamente diferente: primeiro, porque o preço do ativo é só um detalhe dentro de outras variáveis que precisam ser analisadas. Aqui é importante estudar os ativos, que significa conhecer a empresa, como ela trabalha, o que ela vende, qual sua posição no setor em que atua, quanto de dívida ela tem, como é sua gestão, quais expectativas para os próximos anos. Investir com objetivo em renda significa ter um olhar empreendedor para os ativos que vão entrar na sua carteira, porque eles não serão vendidos com muita facilidade. Aqui, o ganho não mora na compra e venda, mora na espera. Neste caso, você não precisa ficar acompanhando tudo o que acontece no mercado financeiro, apenas notícias específicas sobre ativos da sua própria carteira, além de construir uma boa estratégia de diversificação e tomar cuidado com os riscos. Uma vez construída sua estratégia, você só precisa entrar na corretora e investir conforme tem dinheiro disponível: pode viver sua vida tranquilamente, trabalhar, cuidar da sua família, sem se preocupar se precisa comprar ou vender a cada suspiro da Bolsa de valores. Aqui mora o dinheiro que vai te deixar independente do salário (ou do trabalho): você pode ter uma carteira que tem distribuição de dividendos constante.
Cada uma das propostas tem desafios e especificidades diferentes, o que nos coloca em um questionamento mais profundo: por que você quer ter mais dinheiro? Por que aumentar seu patrimônio? O que isso te proporciona em termos práticos, no seu dia a dia? E essas perguntas tem a ver com a função que o dinheiro tem na sua vida: ele é um instrumento para se provar a alguém? Ele é uma forma de demonstrar seu sucesso? Ele é uma forma de trazer opções na sua vida, como largar um trabalho que não gosta tanto assim ou se dar o luxo de tirar férias? Diminuir a carga horária de trabalho? Perceba que, se essas perguntas não forem profundamente respondidas, investir seu dinheiro pode não ter um sentido claro para você, e isso fará com que o hábito seja ainda mais desafiador de construir. Investir sempre será sobre abrir mão de algo que você deseja agora para alocar o dinheiro em um lugar que trará ganhos maiores no futuro – algo que nosso cérebro tem muita dificuldade de lidar. Se o POR QUÊ não estiver bem estabelecido, tudo que estiver em volta dessa decisão ficará embaçado e trará dúvidas.
Outro ponto importante para considerar é: ainda que você busque a valorização do patrimônio, em algum momento terá que converter os resultados dos investimentos em algo que traga renda, caso tenha interesse em construir independência real do trabalho. O caminho de investir assim é bem menos previsível e mais arriscado, o que dificulta a utilização do dinheiro para manutenção da vida cotidiana.
Portanto, além do conhecimento técnico de entender como cada uma das vertentes funciona, você precisa buscar os motivos que levam a investir. Uma vez estabelecidos, são eles que vão guiar suas decisões, a filosofia de investimento, a estratégia adotada, a frequência dos investimentos, etc. Não é sobre o “certo ou errado” a fazer: é sobre o que está coerente com o que você quer alcançar. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).