O meu “cumpadi” e amigo Lelé Arantes comemorou no mês passado mais um aniversário e, claro, fomos lá dar-lhe um abraço fraternal e desejar-lhe sorte na vida. A festa foi de primeiríssima, sendo servido, inclusive, delicioso porco à paraguaia.
Muitos amigos foram levar felicitações ao aniversariante, que estava feliz com a demonstração de carinho de todos os participantes na sua festa!
Na véspera, encontrei o Alexandre Caprio próximo à minha casa. Comentamos do aniversário e ele me disse que levaria para mim uma surpresa. Dito e feito. No dia, o amigo apareceu trazendo a tiracolo não uma, mas três surpresas: eram para minha alegria e emoção três piões de madeira iguaizinhos aos que eu brincava na minha infância.
Imediatamente fomos para fora do salão e em torno de nós se juntaram, além das crianças curiosas para saberem do que se tratava, também o pai do Alexandre, o Antonio Caprio, e o coronel Godoy, velho amigo.
Com o pião na mão esquerda e a fieira na direita comecei a enrolar, fixar o barbante ao punho e “pinchá” o belo brinquedo ao chão. Enquanto começa os preparativos, as crianças que estavam em volta não entendiam direito o que iria acontecer com aquele “treco “ de madeira e um barbante que eu insistia em dar voltas e mais voltas, na base em direção ao topo. Quando completei o enrolar do pião, uma insegurança tomou conta de mim: “Será que vou conseguir jogá-lo e fazê-lo zunir como nos velhos tempos?”, perguntei a mim mesmo diante dos pares de olhinhos vibrando de encantamento sendo seguidos pelos amigos aqui já anunciados.
Tomei coragem e num impulso lancei ao chão, como há muito não fazia. Uma grande emoção tomou conta de mim ao ver zunindo no ladrilho o meu presente e, sem pensar, num ímpeto, abaixei-me e com os dedos em forma de tesoura fiz o pião rodar na palma da mão. As crianças à nossa volta estavam deslumbradas com tal feito. Imediatamente com as máquinas fotográficas em punho vieram registrar o feito os amigos Fernanda Caprio, Silas Marçal e o jornalista Edmilson Zanetti.
Ao sentir o brinquedo dormir na palma da mão, em fração de segundos transportei-me para minha infância e me vi ao lado dos meus amiguinhos em torno da rinha feita no chão de terra batida do terreiro da colônia, jogando pião.
A brincadeira iniciava com vários meninos, todos de armas” em punho, que ao mesmo tempo jogavam dentro da roda. Os piões ficavam zunindo muitas vezes até por minutos e ao fim davam a “piorra”, ou seja: era como um espasmo, o danado rolava sobre si mesmo e saía do círculo. O dono, então, dava pulos de contentamento, pegando para si o objeto tão desejado. Ao passo que aquele que não tinha a “piorra” tão forte ficava dentro da roda e era disputado para ver quem conseguia tirá-lo e tornar-se, assim, o seu dono.
Muitas vezes chegava-se para jogar trazendo somente um brinquedo no bolso e, ao término, saía levando vários na “argibera”, para alegria e contentamento. Outras vezes, a sorte estava do lado contrário, perdia-se até a fieira de enrolar o pião!
Voltando para nossa brincadeira na festa do Lelé, foram postadas fotos pelos amigos no “feice buqui”, causando manifestações de pessoas que viveram lá no passado as mesmas experiências por nós vividas.
Algumas semanas se passaram desde o dia do feito. Trago marcas da fieira em meus dedos e na alma as marcas de um passado que teima em não passar!
E a vida a rodar feito um pião. Roda, vida! Roda, pião, na palma da minha mão!